Do grande meio para vencer as Tentações
From book "Meditações de Santo Afonso de Ligório para cada dia do ano"... Vigilate et orate, ut non intretis in tentationem ...
Vigilate et orate, ut non intretis in tentationem — “Vigiai e orai, para que não entreis em tentação” (Mc 14, 38)
Sumário. Meu irmão, começaste a servir a Deus, mas não penses que tenham acabado as tentações. Agora, mais do que nunca, deves preparar-te para o combate, porque o mundo, o demônio e a carne, mais do que nunca, se aprestarão para te combater, a fim de te fazer perder o que ganhaste. A arma principal que deves empregar para alcançar a vitória, deve ser um perpétuo recurso a Deus pela santa oração; e lembra-te sempre desta grande máxima: Quem reza, certamente se salva; quem não reza, certamente se condena.
I. Meu irmão, tens abandonado o pecado, e crês com fundamento ter recebido o perdão. És amigo de Deus, começaste a servi-lo com todas as tuas forças; mas não penses que por isso tenham acabado as tentações. Ouve o que te diz o Espírito Santo: Fili, accedens ad servitutem Dei, praepara animam tuam ad tentationem (1) — “Filho, quando entrares ao serviço de Deus, prepara a tua alma para a tentação”. Sabe que agora, mais do que nunca, te deves preparar para o combate, porque, mais do que nunca os inimigos, o mundo, o demônio e a carne, se aprestarão para te combater, a fim de perderes tudo o que ganhaste.
Quanto mais uma alma se entrega a Deus, diz Dionísio, o Cartusiano, mais o inferno procura arrebatá-la. É o que exprime claramente o Evangelho de São Lucas, no qual se diz que, quando o demônio é expulso de uma alma, não fica descansado e procura todos os meios para de novo entrar nela; chama outros espíritos infernais em seu auxílio; e, se consegue entrar novamente na alma, a segunda ruína será muito maior que a primeira (2). Examina, pois, atentamente, de que armas te deves munir, para resistires a estes inimigos e te manteres na graça de Deus.
Para não seres vencido pelo demônio, não há outro meio de defesa a não ser a oração. Diz São Paulo que não temos de combater homens de carne e sangue como nós, mas os príncipes do inferno (3). Deste modo nos previne de que não temos em nós mesmos força de resistir a tais potências, e que, por consequência, necessitamos do auxílio de Deus. Tudo podemos com o auxílio divino: Omnia possum in eo qui me confortat (4). Assim dizia o Apóstolo, e assim também nós devemos dizer. Esse socorro, porém, só é dado a quem o pede por meio da oração: Petite et accipietis (5) — “Pedi e recebereis”. Não nos fiemos, pois, das nossas resoluções. Se nelas pusermos a nossa confiança, perder-nos-emos. Quando o demônio nos tentar, ponhamos a nossa confiança no socorro de Deus, recomendando-nos a Jesus Cristo e a Maria Santíssima.
II. Devemos recorrer especialmente à oração, quando formos tentados contra a castidade, porque é a mais terrível de todas as tentações e a que alcança mais vitórias ao demônio. Não temos força para conservar a castidade; é preciso que Deus no-las-dê. Dizia Salomão: “Como sabia que não podia ser continente, se Deus mo não desse, dirigi-me ao Senhor e rezei” — Adii Dominum et deprecatus sum illum (6). É preciso, portanto, nesta espécie de tentações, recorrer logo a Jesus e à sua santa Mãe, invocando frequentemente os seus santíssimos Nomes. Quem fizer assim, vencerá; quem não o fizer, perder-se-á.
Ne proicias me a facie tua (7) — “Meu Deus, não me afasteis da vossa face”. Bem sei que não me abandonareis, se eu não for o primeiro a abandonar-Vos; o que me faz temer esta desgraça, é a experiência da minha fraqueza. Senhor, a Vós cabe dar-me a força de que preciso contra o inimigo, que pretende ver-me ainda na sua escravidão. Eu vo-la peço pelo amor de Jesus Cristo, ó meu Salvador, estabelecei entre mim e Vós uma paz perpétua, que nunca mais possa ser rompida. E, por isso, dai-me o vosso santo amor.
Qui non diligit, manei in morte (8) — “Morto está o que Vos não ama”. Ó Deus da minha alma, haveis de livrar-me dessa morte desgraçada. Bem sabeis que estava perdido; foi por um puro efeito da vossa bondade que voltei ao estado de graça, em que me acho e em que espero ficar. Meu Jesus, pela morte cruel que padecestes por mim, peço-Vos que não permitais torne a perder a vossa amizade. Amo-Vos sobre todas as coisas: espero ficar sempre preso no laço deste santo amor, e assim preso espero morrer e depois viver eternamente. Ó Maria, vós fostes chamada a Mãe da perseverança; sois a dispensadora deste grande dom; é a vós, portanto, que o peço e é de vós que o espero.
Referências: (1) Eclo 2, 1. (2) Lc 11, 24. (3) Ef 6, 12. (4) Fl 4, 13. (5) Jo 16, 24. (6) Sb 8, 21. (7) Sl 50, 13. (8) 1 Jo 3, 14.
(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II: Desde o Domingo da Páscoa até à Undécima semana depois de Pentecostes inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 417-419)
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