Grandeza da Misericórdia de Maria Santíssima
From book "Meditações de Santo Afonso de Ligório para cada dia do ano"... Transite ad me omnes qui concupiscitis me, et a ge...
Transite ad me omnes qui concupiscitis me, et a generationibus meis implemini – “Passai-vos a mim todos os que me cobiçais, enchei-vos dos meus frutos” (Eclo 24, 26)
Sumário. Quando a Santíssima Virgem vivia ainda na terra, já não podia ver algum necessitado sem socorrê-lo. Quanto mais misericordiosa não será agora que está no céu, de onde melhor vê as nossas misérias e nos ama com coração de Mãe! Não nos descuidemos portanto de recorrer a uma Mãe tão boa em todas as nossas necessidades e de pôr nela toda a nossa esperança. Mas, ao mesmo tempo, deixemos de lhe amargurar o coração pela nossa tibieza e pelos nossos pecados.
I. Considera que Maria é uma advogada tão piedosa, que não só ajuda ao que a ela recorre, mas ela mesma vai à procura dos miseráveis para os defender e salvar. Eis como ela convida a todos, animando-nos a esperarmos todos os bens, se a ela recorrermos: “ Passai-vos a mim todos e enchei-vos dos meus frutos. ” — “ O demônio ”, diz São Pedro, “ vai sempre ao redor de nós, buscando quem possa tragar ”; mas nossa divina Mãe, acrescenta Bernardino de Bustis, vai sempre ao redor de nós buscando a quem possa salvar: Circuit, quaerens quem salvet.
Maria é Mãe de misericórdia porque a piedade que tem de nós faz que de nós se compadeça e procure sempre salvar-nos; assim com uma mãe não pode ver seus filhos em perigo de se perderem e deixar de os ajudar. E quem, depois de Jesus Cristo, pergunta São Germano, interessa-se mais pela nossa salvação do que vós, ó Mãe de misericórdia? — Ela certamente nos ajudará quando a invocarmos e nunca jamais foi alguém por ela desamparado. Isso, porém, não basta a seu Coração piedoso. Como diz Ricardo de São Victor, ela previne as nossas súplicas e procura ajudar-nos antes que nós a invoquemos. Apenas vê alguma miséria, socorre logo e não pode ver algum necessitado sem o ajudar.
A Santíssima Virgem assim praticava desde a sua vida terrestre, como sabemos pelo fato sucedido nas bodas de Caná na Galileia. Vindo a faltar o vinho, ela não esperou até ser rogada; mas, compadecendo-se da aflição e do pejo daqueles esposos, pediu ao Filho que os consolasse dizendo: Vinum non habent (1) — “Eles não têm vinho” ; e obteve que seu Filho, por um milagre, convertesse a água em vinho. Pois bem, diz São Boaventura, se foi tão grande a piedade de Maria para com todos quando estava ainda em terra, muito maior sem dúvida será a sua piedade para nos socorrer, agora que está no céu, onde conhece melhor as nossas misérias e mais de nós se compadece.
II. Ah! Não nos descuidemos jamais de recorrer à nossa divina Mãe em todas as nossas necessidades, pois que sempre será achada com as mãos repletas de misericórdia; sempre disposta a ajudar ao que a invoque, e tão desejosa de nos fazer bem e de nos ver salvos, que ela mais deseja conceder-nos graças do que nós desejemos recebê-las. São Boaventura chega a dizer que a Bem-aventurada Virgem se julga ofendida não só pelos que a injuriam positivamente, mas também por aqueles que lhe não pedem graças. Recorramos, pois, sempre a esta Mãe de misericórdia e digamos-lhe o que dizia o mesmo Santo: In te, Domina, speravi, non confundar in aeternum — “Em vós, Senhora, esperei, não permitais que eu seja confundido para sempre ”. Mas ao mesmo tempo deixemos de lhe amargurar o Coração pela nossa tibieza e pelos nossos pecados.
Ó Rainha do céu, Maria Santíssima, eu, que era outrora escravo do demônio, consagro-me agora e sempre a vosso serviço e ofereço-me a vós, para vos honrar e servir pelo restante da minha vida. Recebei-me, então para vosso servo, e não me rejeiteis como o merecera. Ó minha Mãe, em vós hei posto todas as minhas esperanças. Eu bendigo e agradeço a Deus, que por sua misericórdia me deu esta confiança em vós. Verdade é que, no passado, caí desgraçadamente no pecado; mas tenho confiança de haver obtido perdão pelos merecimentos de Jesus e vossas orações.
Entretanto, isto não basta, ó minha Mãe; um pensamento me aflige: posso de novo perder a graça de Deus. Os perigos são contínuos, os inimigos não dormem, novas tentações virão assaltar-me. Ah! Soberana minha, protegei-me, socorrei-me nos assaltos do inferno, e não permitais me aconteça ainda no futuro cometer pecado e ofender a vosso divino Filho Jesus. Não, não perca eu de novo a minha alma, o paraíso e Deus. Peço-vos esta graça, ó Maria, não m’a recuseis, antes alcançai-m’a pela vossa intercessão. Assim espero.
Referências:
(1) Jo 2, 3
(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III: Desde a Décima Segunda Semana depois de Pentecostes até o fim do ano eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1922, p. 186-188)
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