Motivos para Esperar em Jesus Cristo
From book "Meditações de Santo Afonso de Ligório para cada dia do ano"... Sic Deus dilexit mundum, ut Filium suum unigenitum...
Sic Deus dilexit mundum, ut Filium suum unigenitum daret – “Tanto amou Deus o mundo, que lhe deu seu Filho unigênito” (Jo 3, 16)
Sumário. O Pai Eterno, dando-nos seu Filho por Redentor, vítima e preço de nosso resgate, não pôde dar-nos motivos mais poderosos de confiança e de amor. Aproveitemo-nos de tão grande dom e recorramos a Jesus em todas as necessidades, lembrando-nos de que Ele é nossa sabedoria, para trilharmos o caminho da salvação; nossa justiça, para aspirarmos ao paraíso; nossa santificação, para obtermos a santidade; finalmente, nossa redenção, para alcançarmos a liberdade dos filhos de Deus.
I. Considera que o Eterno Pai, dando-nos o Filho por Redentor, vítima e preço de nosso resgate, não nos pode dar motivos mais poderosos de confiança e de amor. Tendo-nos dado Seu Filho, não tem mais nada que nos dar, diz Santo Agostinho. Quer o Pai que nos aproveitemos deste seu dom imenso, para alcançarmos a salvação eterna e todas as graças de que necessitamos. Em Jesus achamos tudo que podemos desejar; nEle achamos luz, fortaleza, paz, confiança, amor e a glória eterna, porquanto Jesus Cristo é um dom que encerra todos os dons que nos é lícito buscar e desejar: Quomodo non etiam cum illo omnia nobis donavit? (1). Depois que Deus nos deu Seu amado Unigênito, que é a fonte e o tesouro de todos os bens, como poderemos temer, diz São Paulo, que nos queira recusar alguma graça que lhe vamos pedir?
Christus Jesus factus est nobis sapientia a Deo, et iustitia, et sanctificatio et redemptio – “Jesus Cristo foi por Deus feito para nós sabedoria, justiça, santificação e redenção” (2). Deus no-lo deu, para que fosse nossa luz e sabedoria na ignorância e cegueira, para trilharmos o caminho da salvação. Aos réus do inferno deu-o como justiça afim de poderem aspirar ao paraíso; aos pecadores deu-o como santificação para alcançarem a santidade; e, finalmente, como éramos escravos do demônio, deu-no-lo como redenção para adquirirmos a liberdade dos filhos de Deus. – Numa palavra, diz o Apóstolo que por meio de Jesus Cristo fomos enriquecidos com todos os bens e graças, se os pedimos em virtude dos seus merecimentos: In omnibus divites facti estis; ita ut nihil vobis desit in ulla gratia – “Em todas as coisas fostes enriquecidos nele, de modo que nada vos falta em alguma graça” (3).
O dom que Deus fez do Seu Filho, é um dom feito a cada um de nós; pois que o deu de tal forma a cada um, como se fosse dado a este só. De modo que cada um de nós pode dizer: Jesus é todo meu; é meu o Seu Corpo, o Seu Sangue, é minha a Sua vida e a Sua morte; são meus os Seus padecimentos e méritos; – Por isso dizia São Paulo: Dilexit me, et tradidit semetipsum pro me – “Ele me amou e se entregou a si mesmo por mim” (4). Quem quer pode dizer o mesmo: o meu Redentor me amou, pelo amor que me teve, se deu todo a mim.
II. Ó Deus eterno, quem poderia fazer-me um dom de valor infinito a não ser Vós, que sois um Deus de amor infinito? Ó meu Criador, que mais podíeis fazer para excitar em nós a confiança na Vossa Misericórdia, e nos obrigar a Vos amar? Senhor, eu Vos paguei com ingratidão; mas Vós dissestes: Diligentibus Deum omnia cooperantur in bonum – “Para os que amam a Deus, tudo coopera para o bem” (5). Não quero, portanto, que o grande número e a enormidade de meus pecados me façam perder a confiança em Vossa bondade; quero que me sirvam para me humilhar mais, quando receba alguma afronta. É digno de outras humilhações e desprezos aquele que teve a ousadia de Vos ofender, ó Majestade infinita! Quero ainda que me sirvam para me resignar mais perfeitamente nas cruzes que me queirais enviar; para ser mais diligente em Vos servir e louvar, afim de compensar as injúrias que Vos fiz. Sempre terei diante dos olhos os desgostos que Vos causei, para louvar mais a Vossa Misericórdia, para me abrasar mais em Vosso amor, já que me viestes procurar, quando fugia de Vós, e me fizestes tanto bem, depois que Vos tinha ofendido tantas vezes.
Espero, Senhor, que já me haveis perdoado. Arrependo-me e quero sempre arrepender-me dos ultrajes que Vos fiz. Quero provar-Vos a minha gratidão, compensando pelo meu amor a minha ingratidão para conVosco. Vós, porém, deveis ajudar-me, e peço-Vos a graça de executar esta minha vontade. Para Vossa glória, fazei, ó meu Deus, que Vos ame muito um pecador que muito Vos ofendeu. Meu Deus, meu Deus, como poderei não Vos amar e tornar a me separar do Vosso amor?
– Ó Maria, minha Rainha, socorrei-me; conheceis a minha fraqueza. Fazei que me recomende a Vós cada vez que o demônio queira separar-me de Deus. Maria, minha Mãe, e minha esperança, ajudai-me.
Referências: (1) Rm 8, 32 (2) 1 Cor 1, 30 (3) 1 Cor 1, 5 e 7 (4) Gl 2, 20 (5) Rm 8, 28
(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo I: Desde o Primeiro Domingo do Advento até a Semana Santa Inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 467-469)
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