O Coração de Jesus, Vítima Voluntária
From book "Meditações de Santo Afonso de Ligório para cada dia do ano"... Posuit Dominus in eo iniquitatem omnium nostrum — ...
Posuit Dominus in eo iniquitatem omnium nostrum — “Pôs o Senhor sobre ele a iniquidade de nós todos” (Is 53, 6)
Sumário. Jesus Cristo sabia que todos os sacrifícios dos animais, oferecidos a Deus no passado, não tinham podido satisfazer pelos pecados dos homens. Eis que então o Coração de Jesus, a inocência, a pureza, a santidade mesma, é carregado de todos os crimes; ei-lo tornado, por nosso amor, objeto das maldições divinas, por causa dos nossos pecados. Ó caridade incomparável, ó caridade infinita e divina do Coração de Jesus!
I. Assim como todas as águas vão lançar-se no mar, assim todas as aflições se reuniram no Coração de Jesus. Ele as aceitou com o mais sublime devotamento, impelido pelo seu amor para conosco, amor que chegou ao excesso: pois não é um excesso de amor da parte de Deus, ter querido se carregar de todas as iniquidades do mundo, a fim de sofrer o castigo delas? Jesus Cristo sabia que todos os sacrifícios dos animais, oferecidos a Deus no passado, não tinham podido satisfazer pelos pecados dos homens. Eis que então o Coração de Jesus, a inocência, a pureza, a santidade mesma, se ofereceu a seu Pai e é carregado de todas as blasfêmias, torpezas, sacrilégios, impurezas, numa palavra, de todos os crimes dos homens.
Eis, pois, o Coração de Jesus, tornado, pelo nosso amor, objeto das maldições divinas, por causa dos nossos pecados, pelos quais se obrigou a satisfazer à eterna justiça; ei-lo carregado de tantas maldições quantos pecados mortais foram, são e serão cometidos sobre a terra. Neste estado é que ele se apresenta a seu Pai, como culpado e responsável por todos os nossos crimes, e Deus, seu Pai, o condena por isso a padecer morte infame da cruz.
Ó caridade incomparável do Coração de Jesus! Ele, nosso Deus, fez-Se nosso fiador, obrigando-se a pagar as nossas dívidas, segundo a bela expressão do Apóstolo (1); e, depois de ter satisfeito por nós, promete-nos da parte de Deus a vida eterna. Também o Eclesiástico nos recomendou, há muitos séculos, nunca nos esquecermos do benefício que devemos a este celeste fiador: Gratiam fideiussoris ne obliviscaris; dedit enim pro te animam suam (2).
Ó caridade infinita do Coração de Jesus! Os médicos fazem todos os esforços para curarem o enfermo por quem se interessam. Mas qual é o médico que toma sobre si a enfermidade de outrem para o curar? Jesus Cristo é o único médico que tomou sobre si as nossas enfermidades para as curar. O Verbo divino não quis enviar outrem para fazer este misericordioso ofício: ele mesmo se dignou vir para ganhar todo o nosso amor.
II. Ó caridade verdadeiramente divina do Coração de Jesus! Ele não se contentou de oferecer à justiça divina uma satisfação suficiente, quis que ela fosse superabundante; digo superabundante, porque, para nos resgatar, uma simples súplica do Homem-Deus bastava; mas o que era suficiente para a Redenção, não satisfazia ao amor do Coração mais amante que tem havido e pode haver.
Ó caridade verdadeiramente inefável e inaudita do Coração de Jesus, Vós nos obrigais a pormos em Vós confiança sem limites, pois nada nos pode perturbar tanto, quanto Vós nos podeis sossegar. Ó Coração de Jesus, Vós sois o porto seguro daqueles que, na tempestade, recorrem a Vós! Ó Pastor vigilante, é errar, não esperar em Vós, uma vez que se tenha vontade séria de se corrigir. Vós dissestes: Eu sou o vosso advogado: a vossa causa é a minha. Eu sou a vossa caução: vim pagar as vossas dívidas. Sou o vosso Salvador: resgatei-vos com o meu sangue, não para vos abandonar, mas para vos enriquecer.
Meu Jesus, se Deus Vos carregou de todos os pecados dos homens, com que peso não aumentei pelos meus a cruz que levastes até o Calvário? Ah! Meu terno Salvador, Vós víeis já então as injúrias que eu Vos havia de fazer: apesar disto, não deixastes de amar-me e preparar-me estas grandes misericórdias de que me cumulastes depois. Se então Vos tenho sido tão caro, eu, o mais vil e ingrato dos pecadores, que tanto Vos ofendi, justo é que, a vosso turno, Vós me sejais caro, ó meu Deus, bondade e beleza infinitas.
Ah! Oxalá nunca Vos houvesse contristado! Agora, meu Jesus, vejo toda a indignidade do meu procedimento. Malditos pecados, enchestes de amargura o Coração tão terno e amante do meu Redentor! Perdoai-me, meu Jesus, arrependo-me de Vos ter ofendido: no futuro sereis o único objeto do meu amor. Ó amabilidade infinita, eu Vos amo de todo o meu coração, resolvido a não amar mais senão a Vós. Ó Maria, Mãe de Jesus, impetrai-me um ardente amor para com vosso Filho amabilíssimo.
Referências: (1) Hb 7, 22. (2) Eclo 29, 20.
(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II: Desde o Domingo da Páscoa até à Undécima semana depois de Pentecostes inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 369-372)
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