Oferecimento do Coração a Maria Santíssima
From book "Meditações de Santo Afonso de Ligório para cada dia do ano"... Praebe, fili mi, cor tuum mihi, et oculi tui vias ...
Praebe, fili mi, cor tuum mihi, et oculi tui vias meas custodiant — “Dá-me, filho meu, o teu coração, e os teus olhos guardem os meus caminhos” (Pv 23, 26)
Sumário. A mais bela homenagem que podemos tributar a Maria Santíssima no encerramento do mês de maio, é oferecer-lhe o nosso coração, isto é, desfazer-nos da nossa vontade própria para a consagrar inteiramente e sem reserva ao seu serviço. Tal oferecimento, porém, para ser agradável à Mãe de Deus e nos merecer a sua proteção especial, não deve ser só de palavras, mas ser efetivo pelos atos. Como se poderá dizer que pertence a Santíssima Virgem o coração que está na sonolência contínua da tibieza e talvez na morte do pecado?
I. A mais bela homenagem que podemos tributar a Maria, no encerramento do mês de Maio, é o oferecimento do nosso coração, isto é, a renúncia da nossa vontade própria, a fim de consagrá-la inteiramente e sem reserva ao seu serviço. Quando damos à Santíssima Virgem os nossos bens pelas esmolas, o sustento pelo jejum, o sangue pela disciplina, damos coisas nossas; mas quando lhe fazemos o oferecimento da nossa vontade, damos-lhe o que somos; porque lhe entregamos a faculdade que, qual rainha, tem sob o seu domínio e ao seu mando todos os sentidos do corpo e as demais faculdades da alma. Pelo que o devoto que oferece a Maria o coração, pode em verdade dizer-lhe: Senhora, tendo-vos dado a minha vontade, nada mais tenho para vos dar.
Para que tal oferecimento seja agradável à Mãe de Deus e nos mereça a sua proteção especial, não deve ser só de palavras, mas efetivo pelas obras. Quem, portanto, oferece o coração a Maria, deve, antes de mais nada, fazer desta excelsa Virgem, depois de Deus, o principal objeto do seu amor, e provar isso visivelmente, venerando-a cada dia com obséquios especiais, deve ter continuamente o seu belo nome nos lábios, e empenhar-se por todos os modos para aumentar em si próprio e em outros a devoção para com ela. Quem faz a Maria a oferta do coração, deve em segundo lugar tomar a excelsa Virgem por modelo, procurando imitar-lhe as virtudes, especialmente a pureza, a paciência, o amor a Deus e ao próximo. Diz um provérbio que, quem ama, já é semelhante à pessoa amada ou procura sê-lo.
Quem oferece o coração a Maria, deve em terceiro lugar, ter a Santa Virgem por seu perpétuo refúgio, implorando-a em todas as necessidades, e, qual criança, recorrer em qualquer perigo à sua Mãe. Sobretudo, quem faz o oferecimento do coração a Maria, deve, depois de tão sublime doação, guardá-lo como um depósito sagrado, evitando não somente profaná-lo pelo pecado mortal, mas também manchá-lo com pecados veniais, que, assim como ofendem a Jesus Cristo, desagradam a divina Mãe.
II. Toma hoje a grinalda que, no correr do mês de maio, teceste com as orações e outros obséquios a Nossa Senhora, põe no meio dela o teu coração purificado pela confissão sacramental e deposita-o aos pés da Santíssima Virgem. Roga-lhe que, se ela prevê que um dia o profanarás pelo pecado, te deixe morrer hoje mesmo depois da tua comunhão. A fim de que a tua oferta seja mais agradável ainda à Mãe de Deus, fazê-la pelas mãos do seu grande servo e teu protetor Santo Afonso.
Santíssima Virgem, Mãe de Deus, eu, pecador indigníssimo, prostrado aos vossos pés, na presença de Deus todo-poderoso e de toda a corte celestial, apresento-vos e ofereço-vos o meu coração com todos os seus afetos; eu vos consagro e quero que seja sempre vosso e do vosso querido Jesus. Aceitai, ó Mãe clementíssima, a devota oferta que vos faz o vosso pobre servo em união com os corações de todos os santos, e fazei com que eu hoje mesmo comece e depois continue a viver unicamente para vós e para o vosso divino Filho, meu Deus. Com o seu auxílio e com a vossa amorosa assistência, espero executá-lo, e da minha parte vos prometo. Ó Jesus e Maria, ponde o meu pobre coração entre os vossos, para que se abrase todo no vosso puro amor; e, depois de uma vida toda consumida pelo fogo do amor, possa arder de amor eterno, lá, nas alturas celestiais, em companhia dos anjos e santos. Assim seja.
(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II: Desde o Domingo da Páscoa até a Undécima semana depois de Pentecostes inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 336-338)
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