Jesus no Santíssimo Sacramento dá audiência a todos e a qualquer hora
From book "Meditações de Santo Afonso de Ligório para cada dia do ano"... Ad vocem clamoris tui, statim ut audierit, respond...
Ad vocem clamoris tui, statim ut audierit, respondebit tibi – “Logo que ouvir a voz do teu clamor, te responderá” (Is 30, 19)
Sumário. Os reis da terra não dão sempre audiência, e muitas vezes acontece que o que lhes deseja falar, é despedido pelos guardas a pretexto de que não é tempo de audiência e deve vir mais tarde. Jesus, porém, no Santíssimo Sacramento, não faz assim; dá audiência a todos e a toda hora. É por isso que as igrejas estão sempre abertas. Porque então é que nós, que temos a sorte feliz de morar no palácio do Senhor, não aproveitamos melhor a sua condescendência para lhe expor as nossas necessidade e pedir graças?
I. Falando do nascimento do Redentor no presépio de Belém, São Pedro Crisólogo diz que os reis da terra não dão sempre audiência, e que, quando alguém lhes deseja falar, muitas vezes acontece que os guardas o despedem a pretexto de que não é tempo de audiência e deve vir mais tarde. O divino Redentor, pelo contrário, quis nascer numa gruta aberta, sem portas nem guardas, para dar audiência a todo o mundo e a toda a hora: Non est satelles qui dicat: Non est hora — “Não há guarda para dizer que não é a hora” . Isto mesmo faz Jesus no Santíssimo Sacramento. As Igrejas estão continuamente abertas; cada um pode, quando lhe aprouver, ir entreter-se com o Rei do céu.
E lá, Jesus quer que lhe falemos com toda a confiança: por esta razão é que ele se conserva sob as espécies de pão. Se o Senhor aparecesse sobre os altares num trono de luz, como aparecerá no juízo final, quem se atreveria a se aproximar dele? Mas, reflete Santa Teresa, como ele deseja que lhe falemos e peçamos suas graças cheios de confiança e sem temor, velou sua majestade sob as espécies de pão. Ele deseja, diz também Tomás de Kempis, que falemos a ele com um amigo fala a seu amigo. Por isso acrescenta o cardeal Hugo, nos sagrados Cânticos Jesus se chama a si próprio flor dos campos e açucena dos vales: Ego flos campi et lilium convallium (1). As flores dos jardins são encerradas e reservadas; mas as flores dos campos estão à disposição de todos.
Qual não seria a tua alegria, meu irmão, se o rei te chamasse ao seu gabinete e te falasse: Dize-me, que desejas? amo-te e desejo fazer-te bem. Pois é isto o que Jesus Cristo, o Rei do céu, diz a qualquer que o visita: Venite ad me omnes qui laboratis et onerati estis, et ego reficiam vos — “Vinde a mim, vós todos que sois pobres, enfermos, aflitos: eu posso e quero enriquecer-vos, curar-vos e consolar-vos; é para isto que me conservo sobre os altares” (2).
II. Procura ir muitas vezes à audiência junto ao Rei do céu, e, se ainda não o tens, toma o belo hábito de assistir todas as manhãs à santa missa, durante a qual Jesus sacramentado dispensa as suas misericórdias mais profusamente. Não te detenham mais de render esta homenagem a Jesus Cristo, nem os negócios terrestres, nem o respeito humano. Thomas Morus, no meio dos seus múltiplos afazeres como Chanceler da Inglaterra, achava ainda todos os dias o tempo para assistir à missa, nem julgava indecoroso à sua dignidade o servir ele mesmo ao celebrante. Certo dia, enquanto praticava a sua bela devoção, avisaram-no que o rei o estava esperando. Thomas respondeu: “Tenha um pouco de paciência, primeiro devo tributar minha homenagem a um Soberano de mais alta hierarquia e assistir até ao fim à audiência do Rei do céu”.
Amadíssimo Jesus meu, já que residis sobre os altares, para escutar as orações dos infelizes que a Vós recorrem, prestai hoje ouvido à que Vos dirige este pobre pecador. Ó Cordeiro de Deus, imolado e morto na cruz, eu sou uma alma resgatada a preço do vosso sangue; perdoai-me todas as injúrias que vos fiz, e assisti-me com a vossa graça, afim de que Vos não perca mais. Jesus meu, dai-me parte na dor que tivestes dos meus pecados no horto do Getsêmani. Ó meu Deus, quanto quisera nunca Vos ter ofendido!
Dulcíssimo Jesus meu, se eu morresse em pecado, privado ficaria de Vos amar para sempre; Vós, porém, me haveis esperado para que vos ame. Graças Vos dou pelo tempo que me concedeis, e já que Vos posso amar, quero amar-Vos. Dai-me a graça do vosso santo amor, mas um amor tão forte que me faça esquecer tudo, para só pensar em satisfazer ao vosso amantíssimo Coração. — Ah, meu Jesus, toda a vossa vida consumistes por mim; consuma eu também por Vós o que me resta da minha. Atraí-me todo ao vosso amor; fazei-me todo vosso antes da minha morte. Espero esta graça pelos merecimentos da vossa Paixão. Confio também em vossa intercessão, ó Maria; sabeis que Vos amo; tende compaixão de mim.
Referências: (1) Ct 2, 1 (2) Mt 11, 28
(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III: Desde a Décima Segunda Semana depois de Pentecostes até o fim do ano eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1922, p. 69-71)
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