Vida pobre que Jesus começou a levar desde o seu nascimento
From book "Meditações de Santo Afonso de Ligório para cada dia do ano"... Propter vos egenus factus est, cum esset dives, ut...
Propter vos egenus factus est, cum esset dives, ut illius inopia vos divites essetis – “Sendo rico, se fez pobre por vosso amor, a fim de que vós fosseis ricos pela sua pobreza” (2 Cor 8, 9)
Sumário. Se Jesus tivesse nascido em Nazaré, teria nascido pobre, sim; mas ao menos num quarto asseado e sem umidade, com um pouco de lume, paninhos aquecidos e um bercinho mais cômodo. Mas não; Jesus quis nascer naquela gruta fria e sem lume; quis que uma manjedoura lhe servisse de berço e um pouco de palha Lhe fosse colchão, a fim de padecer mais e ensinar-nos a santa pobreza. Aproveitemo-nos da lição e lembremo-nos de que, quem ama as comodidades, nunca será santo.
I. Deus dispôs que no tempo em que seu Filho devia nascer na terra, fosse lançada a ordem do imperador, que cada um fosse alistar-se na cidade da sua origem. E assim aconteceu que, de conformidade com o édito de César, São José tivesse de ir, com a sua santa Esposa, a Belém para ser alistado. Chegou então a hora do parto de Maria, que, por não achar acolhida em nenhuma outra casa, nem mesmo na hospedaria comum dos pobres, viu-se obrigada a passar a noite em uma gruta, e ali deu à luz o Rei do céu. Se Jesus tivesse nascido em Nazaré, teria nascido pobre, sim; mas ao menos teria tido um quarto asseado e sem umidade, um pouco de lume, paninhos aquecidos e um bercinho mais cômodo. Quis, porém, nascer naquela gruta fria e sem lume; quis que uma manjedoura lhe servisse de berço e um pouco de palha dura lhe fosse colchão.
Entremos na lapinha de Belém, mas entremos com fé. Se entrarmos sem fé, acharemos apenas uma criança pobre, que excita a nossa compaixão pela sua formosura amável, que está tiritando e chorando por causa do frio e da palha pungente. Se, ao contrário, entrarmos com fé e pensarmos que aquele Menino é o Filho de Deus, que por nosso amor veio à terra e sofre tanto para satisfazer pelos nossos pecados, como poderemos deixar de Lhe agradecer e de O amar?
II. Ó meu dulcíssimo Menino Jesus, como é possível, que, sabendo o que por meu amor padecestes, Vos tenha sido tão ingrato e causado tão graves desgostos? As lágrimas que derramastes e a pobreza que por meu amor escolhestes, me fazem esperar o perdão das injúrias que Vos tenho feito. Pesa-me, ó Jesus meu, de Vos ter virado as costas tantas vezes e amo-Vos sobre todas as coisas. Deus meus et omnia — “Meu Deus e meu tudo” . Meu Jesus, se em outros tempos meu coração se afeiçoou aos bens da terra, de hoje em diante Vós sereis o meu único tesouro. Ó Deus de minha alma, Vós sois um bem infinitamente mais estimável que qualquer outro bem. Vós sois digno de um amor infinito: amo-Vos e estimo-Vos mais do que todas as outras coisas, mais do que a mim mesmo. Vós sois o único objeto de todo o meu amor. Não desejo mais nada deste mundo; mas se pudesse ter um desejo, seria o de possuir todos os tesouros e todos os reinos da terra, a fim de me abdicar e me privar deles por vosso amor.
Vinde, ó meu Amor, vinde destruir em mim todos os afetos que não são para Vós. Fazei para o futuro que não olhe senão para Vós, não pense senão em Vós, não suspire senão por Vós. Tomara eu que o amor, que Vos levou a fazer-Vos criança e a morrer por mim, me faça morrer a todas as minhas inclinações, para não amar senão a vossa bondade infinita e para não desejar senão a vossa graça e o vosso amor. Meu amado Redentor, quando serei todo vosso, assim como Vós sois todo meu se eu o quero? Eu nem sequer sei como me dar convenientemente a Vós; por piedade, apoderai-Vos de mim, e fazei que eu viva tão somente para agradar-Vos. Espero tudo pelos merecimentos de vosso sangue, ó Jesus, e da vossa intercessão, ó minha querida Mãe Maria.
(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo I: Desde o Primeiro Domingo do Advento até a Semana Santa inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 131-133)
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