logo burning flame
homeLivrosAutoresTópicosAprendaContato
logo burning flame
Quarta-feira da Primeira Semana depois da Epifania

A eternidade do inferno é terrível, mas justa

Do livro "Meditações de Santo Afonso de Ligório para cada dia do ano"... Non dabit Deo placationem suam… laborabit in aeter...


Image for Meditações para todos os dias
Meditações para todos os dias

Santo Afonso

Non dabit Deo placationem suam… laborabit in aeternum – “Não dará a Deus a sua propiciação… estará em trabalho eternamente” (Sl 48, 8)

Sumário. Digam os incrédulos o que quiserem: as penas do inferno durarão eternamente. E com razão. À ofensa de uma Majestade infinita é devido um castigo infinito. Sendo, porém, a criatura incapaz de sofrer um castigo infinito em intensão, é justo que o seja em duração. Quantos daqueles que não quiseram crer nesta terrível eternidade, experimentam-na agora em si mesmos! Ai daquele que cair no abismo infernal!

I. As penas da vida presente passam; porém, as da outra vida não passarão nunca, estarão sempre principiando. Pobre Judas! Passaram-se quase mil e novecentos anos desde que caiu no inferno e o inferno está apenas principiando para ele. Pobre Cain! Há perto de seis mil anos que está no inferno e o seu inferno ainda está no princípio. Perguntou-se certa vez a um demônio há quanto tempo já estava no inferno; e respondeu: Desde ontem. — Como? Disseram-lhe; desde ontem? Não há mais de cinco mil anos que foste condenado ao inferno? — Tornou o demônio: Oh! Se soubesses o que quer dizer eternidade, bem compreenderias que em comparação dela cinco mil anos não são senão um instante.

Mas como? Dirá um incrédulo; que justiça é essa? Castigar com uma pena eterna um pecado que dura apenas um momento? E como é, respondo eu, que o pecador pode ter a audácia de ofender, por um prazer momentâneo, uma Majestade infinita? Até a justiça humana, observa Santo Tomás, mede a pena, não pela duração, mas pela qualidade do crime. Non quia homicidium in momento committitur, momentanea poena punitur . A ofensa feita à Majestade divina merece castigo infinito, diz São Bernardino de Sena. Mas, como a criatura, acrescenta o Doutor Angélico, não é capaz da pena infinita em intensidade, é com justiça que Deus torna a pena infinita em duração.

Além disso, esta pena deve ser necessariamente eterna, porque o condenado já não pode satisfazer pelo seu pecado. Nesta vida, o pecador penitente pode satisfazer, porquanto podem ser-lhe aplicados os merecimentos de Jesus Cristo; mas desta aplicação fica excluído o condenado, e visto não poder aplacar a Deus, e ser eterno o seu estado de pecado, a pena deve também ser eterna:

Non dabit Deo placationem suam… laborabit in aeternum — “Não dará a Deus a sua propiciação… estará em trabalho eternamente”

— Demais: ainda que Deus quisesse perdoar, o réprobo não quisera ser perdoado, porque a sua vontade está obstinada e confirmada no ódio contra Deus. Por isso o mal do réprobo é incurável, porque ele recusa a cura : Factus est dolor eius perpetuus, et plaga desperabilis renuit curari (1).

II. Eis aí, pois, o estado lastimoso dos pobres condenados no inferno: ficarão encerrados eternamente nesse cárcere de tormentos, sem que haja para eles esperança alguma de sair . Depois de passados milhões e mais milhões de séculos, os desgraçados perguntarão aos demônios:

Custos, quid de nocte? (2) — “Guarda, que viste de noite?”

Já está muito adiantada esta noite procelosa? Quando acabará? Quando acabarão estes clamores, esta infecção, estas chamas, estes tormentos? E hão de responder-lhes: Nunca, nunca! E quanto tempo durarão? Sempre, sempre! E assim a trombeta da justiça divina eternamente lhes fará soar aos ouvidos estas palavras: Sempre, sempre! Nunca, nunca!

Ó meu amado Redentor Jesus, se atualmente estivesse condenado, como mereci, não haveria mais esperança para mim, e estaria obstinado no ódio contra Vós, ó meu Deus, que morrestes para me salvar. Que inferno seria para mim o ter de odiar-Vos, a Vós que tanto me tendes amado, que sois a beleza infinita, digno de amor infinito? Se estivesse, pois, no inferno, achar-me-ia em tão miserável estado, que nem quisera o perdão que me ofereceis agora. Agradeço-Vos, meu Jesus, a bondade que tivestes para comigo, e já que posso ainda esperar o perdão e amar-Vos, quero reconciliar-me convosco, quero amar-Vos. Ofereceis-me o perdão, e eu Vô-lo peço e espero-o pelos vossos merecimentos. Arrependo-me de todas as ofensas que Vos fiz, ó Bondade infinita, e perdoai-me. Amo-Vos de toda a minha alma.

Que mal fizestes, ó Senhor, para que Vos houvesse de odiar como inimigo na eternidade? Quem foi jamais tão meu amigo a ponto de fazer e padecer por mim, o que Vós, ó meu Jesus, haveis feito e sofrido por meu amor? Não permitais que me aconteça cair de novo em vosso desagrado e perder o vosso amor. Prefiro morrer a cair nesta extrema desgraça.

— Ó Maria, abrigai-me sob o vosso manto, e não permitais que saia debaixo dele para alguma vez me revoltar contra Deus e contra vós.

Referências: (1) Jr 15, 18 (2) Is 21, 11

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo I: Desde o Primeiro Domingo do Advento até a Semana Santa Inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 143-146)

Tópicos nesta meditação:

Inferno
Sugerir um Tópico

Gostou da leitura? Compartilhe com um amigo...

previous

Hei de morrer um dia

Terça-feira da Primeira Semana depois da Epifania