A santa comunhão nos faz perseverar na graça divina
Do livro "Meditações de Santo Afonso de Ligório para cada dia do ano"... Qui manducat meam carnem, et bibit meum sanguinem,...
Qui manducat meam carnem, et bibit meum sanguinem, habet vitam aeternam – “Quem come minha carne e bebe meu sangue tem a vida eterna” (Jo 6, 55)
Sumário. Como o pão terrestre sustenta a vida do corpo, assim o pão celeste da santíssima Eucaristia sustenta a vida da alma, fazendo-a perseverar na graça de Deus. Mais, é este o efeito principal do Santíssimo Sacramento: alimentar a caridade e comunicar à alma grande vigor para progredir na perfeição e resistir a todos os inimigos. Se, pois, desejas a graça preciosa da perseverança, resolve comungar frequentes vezes com as devidas disposições e nunca deixar de fazê-lo por qualquer negócio terrestre. Que negócio pode haver mais importante do que o da salvação eterna?
I. Quando Jesus visita uma alma pela santa comunhão, lhe traz todos os bens, todas as graças e especialmente a graça da santa perseverança. O efeito principal do Santíssimo Sacramento do altar é: alimentar com este sustento da vida a alma que O recebe, comunicando-lhe grande vigor para progredir na perfeição e resistir aos inimigos que desejam a nossa morte eterna. Por isso é que Jesus escondido no Sacramento se chama pão celeste: Ego sum panis vivus qui de coelo descendi (1) – “Eu sou o pão vivo, que desci do céu” .
Como o pão terrestre sustenta a vida do corpo, assim este pão celeste sustenta a vida da alma, fazendo-a perseverar na graça de Deus. Com esta vantagem, porém: o pão material sustenta e prolonga a vida do corpo até certo ponto e detém a morte só por breve tempo; por muito que alguém se alimente, afinal há de morrer. Ao contrário, Jesus disse que, se a alma se alimentar devidamente com o pão eucarístico, vivera eternamente e nunca mais estará sujeita à morte espiritual, que consiste na perda da graça: Este é o pão que desce do céu, para que o que dele comer, não morra (2).
Numa palavra, a comunhão, como nos ensina o santo Concílio de Trento (3), é a medicina que nos livra dos pecados veniais e nos preserva dos mortais.
E Inocêncio III acrescenta que, pela sua Paixão, Jesus Cristo nos livra dos pecados cometidos e pela Eucaristia dos que podemos cometer. – Pelo que diz São Boaventura que os pecadores não se devem afastar da comunhão pela razão que forem pecadores; muito antes, por terem sido pecadores devem tomá-la com mais frequência; pois, quanto mais alguém se sente doente, tanto mais precisa de médico: Magis eget medico, quanto quis senserit se aegrotum.
II. Se desejas obter a graça preciosa da perseverança e assegurar a tua salvação eterna, resolve-te a comungar as mais vezes que te for possível, conforme o conselho de teu diretor e a nunca deixar por causa de algum negócio terrestre. Lembra-te que não há negócio mais importante que o da salvação eterna. Se não pertences a uma ordem religiosa e vives no mundo, terás ainda mais precisão de te aproximar de Jesus Cristo, porque estás exposto a tentações mais graves e corres mais risco de cair.
Não basta, porém, só o comungar: se queres tirar proveito da comunhão, mister é que a recebas com as devidas disposições. São Luiz Gonzaga empregava três dias em preparar-se para comungar e outros três dias para dar ações de graças ao Senhor; por isso é que se tornou santo.
Infeliz de mim, ó Senhor! Porque me queixo da minha fraqueza ao ver as minhas quedas tão frequentes? Como podia eu resistir aos assaltos do inferno, afastando-me de Vós, que sois a nossa fortaleza? Se me tivesse chegado mais à santa comunhão, não teria sucumbido tantas vezes diante de meus inimigos. Para o futuro não há de ser mais assim. In te, Domine, speravi, non confundar in aeternum (4) – “Em ti, Senhor, esperei, não serei jamais confundido” . Não quero mais fiar-me em meus propósitos; a minha esperança sois Vós, meu Jesus; Vós me deveis dar a força para não recair no pecado. Eu sou fraco, mas pela santa comunhão me tornareis forte contra os meus inimigos.
Meu Jesus, perdoai-me todas as injúrias que Vos fiz e que agora detesto de toda a minha alma. Antes quero morrer do que tornar a ofender-Vos e pela vossa Paixão espero que me ajudarei a perseverar na vossa graça até à morte: Em ti, Senhor, esperei, não serei jamais confundido. – É o que com São Boaventura vos digo também, ó minha Mãe Maria: Senhora, em vós ponho todas as minhas esperanças e não serei jamais confundido.
Referências:
(1) Jo 6, 51 (2) Jo 6, 50 (3) Sess. 13, c. 2. (4) Sl 70, 1
(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II: Desde o Domingo da Páscoa até a Undécima Semana depois de Pentecostes inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 188-191)
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