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Terça-feira da Décima Terceira Semana depois de Pentecostes

Angústias da alma descuidada na hora da morte

Do livro "Meditações de Santo Afonso de Ligório para cada dia do ano"... Cor durum male habebit in novissimo; et qui amat p...


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Meditações para todos os dias

Santo Afonso

Cor durum male habebit in novissimo; et qui amat periculum, in illo peribit – “O coração endurecido será oprimido de males no fim da vida; e quem ama o perigo perecerá nele” (Eclo 3, 27)

Sumário. Ai do que resiste durante a vida aos convites de Deus! Desgraçado do que cai no leito com a alma em pecado e dali passa à eternidade! O anúncio da morte já próxima, o pensamento de ter de deixar o mundo, as tentações do demônio, os remorsos da consciência, o tempo que já falta, o rigor da justiça divina e mil outras coisas produzirão uma perturbação tão horrível, que pela confusão do espírito a conversão será quase impossível. Meu irmão, para não morreres de morte tão triste, teme agora viver vida pecaminosa!

I. Presentemente os pecadores afastam a lembrança e o pensamento da morte e assim procuram a paz na vida pecaminosa que levam, muito embora nunca a hajam de encontrar. Quando, porém, estiverem nas angústias da morte, próximos a entrar na eternidade: “ao sobrevir-lhes a angústia, buscarão a paz, e não haverá paz” — angustia superveniente, requirent pacem, et non erit (1). Então não poderão escapar aos tormentos de sua má consciência. Procurarão a paz; mas que paz poderá encontrar uma alma, vendo-se carregada de pecados, que, como outras tantas víboras, a mordem por toda a parte? Que paz, em pensar que dentro de poucos instantes deve comparecer perante o Juiz, Jesus Cristo, cujas leis e amizade desprezou até então!

Conturbatio super conturbationem veniet (2) — “A um susto sucederá outro susto” . O anúncio já recebido da morte próxima, o pensamento de se dever separar de todas as coisas do mundo, as tentações do demônio, os remorsos da consciência, o tempo perdido, o tempo que falta, o rigor do juízo divino, a eternidade desgraçada reservada aos pecadores, todas estas coisas produzirão uma perturbação terrível, que lançará a confusão no espírito e aumentará a desconfiança. E é neste estado de confusão e de desconfiança que o moribundo passará à outra vida. — Com efeito, a experiência ensina que as almas desleixadas na hora da morte nem sabem responder às perguntas que o sacerdote faz, e se confundem. Assim muitas vezes o confessor lhes dá a absolvição, já não porque as julga bem dispostas, mas porque não há mais tempo a perder.

Se alguma vez se têm visto pecadores moribundos chorarem, fazerem promessas e pedir perdão a Deus, diz com razão um autor que, geralmente falando, tais promessas, lágrimas e orações são como as de um homem atacado pelo seu inimigo, que lhe põe o punhal sobre o coração e o ameaça de morte. — Desgraçado, pois, do que em vida se endurece e resiste aos apelos de Deus; desgraçado do que cai no leito com pecado mortal na alma e dali passa à eternidade!

II. Meu irmão, se porventura tu também és uma daquelas almas que têm a consciência desmazelada, procura quanto antes remediar tão grave mal. Para não morreres má morte, teme viver má vida. Quem te dá a certeza de que não morrerás fulminado por um raio, de uma sufocação, de um ataque de apoplexia? E ainda que na morte tivesses tempo para te converter, quem te garante que deveras te converterás e farás uma boa confissão? Oh, quantos daqueles que se iludiram com a ideia de se converterem na hora da morte estão agora ardendo no inferno!

Ó chagas de meu Jesus, vós sois minha esperança. Desperaria do perdão de meus pecados e da minha salvação eterna se não erguesse os olhos para vós, fontes de misericórdia e de graça, pelas quais um Deus derramou todo o seu sangue, para lavar a minha alma de tantas faltas cometidas. Adoro-vos, ó chagas sagradas e em vós confio. Detesto mil vezes e amaldiçoo os prazeres indignos pelos quais causei desgosto a meu Redentor e perdi miseravelmente a sua amizade. Olhando para vós, avivam-se as minhas esperanças e para vós dirijo os meus afetos.

Meu amado Jesus, mereceis que todos os homens Vos amem, e Vos amem de todo o coração; e eu Vos ofendi tanto e tanto desprezei o vosso amor. Não obstante isso, Vós me tendes suportado e com tão grande piedade convidado ao perdão. Ah, meu Salvador, não permitais que Vos ofenda outra vez e que me condene. Que tormento seria para mim no inferno a vista de vosso sangue e de tantas misericórdias que me fizestes! Amo-Vos e sempre quero amar-Vos. Dai-me a santa perseverança. Desprendei o meu coração de todo o amor que não seja para Vós e inspirai-me um verdadeiro desejo e a resolução de não amar de hoje em diante senão a Vós, ó meu soberano Bem!

— Ó Maria, minha Mãe, atraí-me para Deus e fazei que eu seja todo d´Ele antes de morrer.

Referências:

(1) Ez 7, 25 (2) Ez 7, 26

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III: Desde a Décima Segunda Semana depois de Pentecostes até o fim do ano eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1922, p. 27-30)

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Morte
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