Da Comunhão Sacrílega
Do livro "Meditações de Santo Afonso de Ligório para cada dia do ano"... Qui manducat et bibit indigne, iudicium sibi mandu...
Qui manducat et bibit indigne, iudicium sibi manducat et bibit, non diiudicans corpus Domini – “O que come e bebe indignamente, come e bebe para si a condenação, não fazendo discernimento do corpo do Senhor” (1Cor 11, 29)
Sumário. Antes de te aproximares da Mesa eucarística, examina sempre a tua consciência, e se por desgraça tiveres remorso de alguma falta grave, purifica a tua alma pela confissão sacramental. Quanto às culpas veniais, esforça-te por tirá-las de tua alma, ao menos as que forem deliberadas, e afasta de ti tudo o que não seja Deus. Ai daquele que comunga indignamente! Torna-se réu do Corpo e do Sangue de Jesus Cristo, e portanto come-O e bebe-O para a sua própria condenação.
I. Consideremos o enorme pecado que comete aquele que se atreve a chegar-se à sagrada mesa com pecado mortal na alma. Este pecado é tão enorme, que São João Crisóstomo, comparando-lhe todos os demais, não acha outro igual, e diz que quem o comete, especialmente sendo sacerdote, é muito pior do que o próprio demônio: Multo daemonio peior est qui, peccati conscius, accedit ad altare . São Pedro Damião explica a razão dizendo: “ Se com os outros pecados ofendemos a Deus em suas criaturas, com este ofendemo-Lo em sua própria pessoa. ”
Que dirias do perverso que tirando a sacrossanta Hóstia da Âmbula sagrada, a atirasse a um vil monturo? Pior do que isso, diz São Vicente Ferrer, faz aquele que tem a ousadia de comungar sacrilegamente; porque, de certo modo, atenta contra o corpo de Jesus Cristo, obriga esta vítima inocente a morar em seu coração cheio de corrupção, entrega o Cordeiro imaculado nas mãos dos demônios que o insultam da mais horrenda maneira.
Pelo que Santo Agostinho compara os sacrílegos aos pérfidos Judeus, que crucificaram o nosso Redentor. Com esta diferença, porém: que os Judeus crucificaram ao Senhor da glória enquanto era terrestre e mortal, e os sacrílegos crucificam-No agora que reina no céu; aqueles só uma vez se atreveram a crucificá-Lo, estes renovam o deicídio freqüentes vezes; aqueles se tinham declarado inimigos figadais de Cristo, estes traem-No ao mesmo tempo que, pelo menos exteriormente, O reconhecem por seu Deus, simulando reverência e devoção, e imitando a Judas, abusam do sinal de paz: Osculo Filium hominis tradis (1) — “Com um beijo entregas o Filho do homem” .
É disso que Jesus se queixa sobretudo, pela boca de Davi: Si inimicus meus maledixisset mihi, sustimissem utique (2). Se um inimigo, parece dizer Jesus Cristo, me tivesse ultrajado, eu o suportaria com menos pena; mas tu, meu íntimo, meu ministro e príncipe entre o povo; tu, a quem dei tantas vezes a minha carne para sustento: tu me vendes ao demônio por um capricho, por uma vil satisfação, por um punhado de terra?
II. Mas ai do sacrílego! Ai de quem tem a ousadia de tornar-se réu do Corpo e do Sangue de Jesus Cristo, chegando-se indignamente à Mesa sagrada! Falando o Senhor com Santa Brígida a respeito daqueles infelizes, repetiu-lhe as palavras proferidas com relação ao pérfido Judas: Bonum erat ei, si natus non fuisset homo ille (3) — Seria melhor para eles se nunca houvessem nascido . Sim, porque, como diz São Paulo: “ Quem come este pão e bebe este cálice do Senhor indignamente, come-O e bebe-O para sua própria condenação: iudicium sibi manducat et bibit. ”
Meu irmão, a fim de que não te suceda tamanha desgraça, segue o aviso do mesmo Apóstolo: Probet autem seipsum homo (4) — “Examine-se, pois, a si mesmo o homem” . Examina a tua conduta, e se a consciência te acusar de alguma grave culpa, purifica-a por meio de uma boa Confissão sacramental, antes de tomar o alimento da vida eterna. — Quanto às culpas veniais, deves tirar da alma ao menos as cometidas deliberadamente e expulsar do coração tudo que não é Deus. É o que, na interpretação de São Bernardo, significam as palavras que Jesus Cristo disse aos apóstolos, antes de lhes dar a comunhão na última ceia: Qui lotus est non indiget nisi ut pedes lavet (5) — “Aquele que está lavado, não tem necessidade de lavar senão os pés” .
Meu dulcíssimo Jesus, oh! Pudesse eu lavar com minhas lágrimas, e até com meu sangue, as almas infelizes em que o vosso amor é tão ultrajado no santíssimo Sacramento! Oh, pudesse fazer com que todos os homens se abrasem em vosso amor! Mas, se isto não me é concedido, desejo ao menos, Senhor, e proponho visitar-Vos muitas vezes e receber-Vos em meu coração, para Vos adorar, como de presente o faço, em reparação dos desprezos que recebeis dos homens neste diviníssimo mistério. Ó Pai Eterno, acolhei esta fraca homenagem que hoje Vos rende o mais miserável dos homens, em reparação das injúrias feitas a vosso divino Filho sacramentado; acolhei-a unida com a honra infinita que Jesus Cristo Vos deu sobre a Cruz e Vos dá ainda todos os dias no santíssimo Sacramento. E vós, minha Mãe Maria, obtende-me a santa perseverança.
Referências:
(1) Lc 22, 48 (2) Sl 54, 13 (3) Mt 26, 24 (4) 1Cor 11, 28 (5) Jo 13, 10
(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II: Desde o Domingo da Páscoa até a Undécima Semana depois de Pentecostes inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 11-14)
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