Festa da Natividade de Maria Santíssima
Do livro "Meditações de Santo Afonso de Ligório para cada dia do ano"... Quae est ista, quae progreditur quase aurora consu...
Quae est ista, quae progreditur quase aurora consurgens? — “Quem é esta que vai caminhando como a aurora quando se levanta?” (Ct 6, 9)
Sumário. A celeste Menina nasce destinada a ser Mãe de Deus; por isso nasce enriquecida de tamanha graça que excede a de todos os anjos e santos juntos. Façamos um ato de fé nesta grandeza inefável de Maria, e agradeçamo-la a Deus em seu nome. Mas alegremo-nos também por nossa causa, e aumentemos a nossa confiança, pois, ao mesmo tempo que a Santíssima Virgem foi destinada a ser Mãe do Redentor, foi destinada igualmente a ser Medianeira do gênero humano, e dispensadora de todas as graças.
I. Antes que nascesse Maria, jazia o mundo perdido nas trevas do pecado, mas com o nascimento de Maria despontou a aurora, diz um santo Padre: Nata Maria, surrexit aurora . Foi de Maria que se disse:
“Quem é esta que vai caminhando como a aurora quando se levanta?”
Assim como, no despontar da aurora, a terra se alegra, porque a aurora é a precursora do sol; assim no nascimento de Maria alegrou-se o mundo inteiro, porque ela é a precursora do Sol de justiça, Jesus Cristo, que havia de ser seu Filho, a fim de nos salvar pela sua morte.
É, pois, com razão que a Igreja canta: A tua Natividade, ó Virgem Mãe de Deus, anunciou gozo ao mundo inteiro; porque de ti nasceu o Sol da justiça, que nos deu a vida eterna: Nativitas tua, Dei Genitrix Virgo, gaudium annuntiavit universo mundo: ex te enim ortus est sol iustitiae, qui donavit nobis vitam sempiternam . Com o nascimento de Maria, nasceu-nos o nosso remédio, a nossa consolação e a nossa salvação; pois que por meio de Maria é que recebemos o Salvador. Sendo, pois, esta criancinha destinada a ser Mãe do Verbo Eterno, Deus a enriqueceu de tamanha graça que, desde a sua Imaculada Conceição, a sua santidade excedia a de todos os santos e anjos juntos. Ela recebeu uma graça de uma ordem superior, proporcionada à dignidade de Mãe de Deus.
Ó Menina santa, ó cheia de graça, eu, miserável pecador, vos saúdo e venero. Sois a predileta, as delícias de Deus; tende piedade de mim, que pelos meus pecados me tornei objeto de ódio e abominação aos olhos de Deus. Ó Virgem puríssima, desde a vossa infância soubestes de tal forma cativar o Coração de Deus, que ele nada vos recusa, e faz tudo o que vós lhe pedis. Em vós ponho todas as minhas esperanças. † “Ó Maria, que sem mancha entrastes no mundo, obtende-me de Deus que eu possa sair dele sem pecado” (1).
II. Ao mesmo tempo que Maria foi destinada a ser Mãe de nosso Redentor, foi destinada também a ser Medianeira entre Deus e nós, pecadores. Por isso diz o angélico Santo Tomás que Maria recebeu tanta graça, que basta para salvar todos os homens. E pela mesma razão São Bernardo chama-a aqueduto cheio, de cuja plenitude todos nós participamos: Plenus aquaeductus, ut accipiant caeteri de eius plenitudine .
Santa e celeste Menina, já que fostes destinada a ser a Medianeira dos pecadores, eia, exercei o vosso ofício; intercedei por mim. É verdade que, pelas minhas ingratidões mereci ser abandonado por vós; mas não quero que os meus pecados me impeçam de confiar em vós, porque tanto agradais a Deus, que nada vos recusa, e sei também que gostais de usar da vossa elevação para aliviar os mais culpados.
Ó criatura, a mais sublime do universo, diante de quem são mui pequenos os grandes do céu; ó santa dos santos, ó Maria, abismo de graça e cheia de justiça, socorrei um miserável que a perdeu por sua culpa. Eia, pois, fazei ver quanto seja grande o crédito que possuis junto de Deus; obtende-me uma luz e chama tão poderosas, que me troquem de pecador em santo, e, desapegando-me de todo o afeto terreno, me abrasem todo de amor para com Deus. Fazei-o, pois o podeis, ó Soberana minha, fazei-o pelo amor deste Deus que vos tornou tão grande, poderosa e piedosa.
“Rogo-Vos, ó meu Deus, que concedais a mim, vosso servo, o dom da graça celeste, para que, assim como o parto da Santíssima Virgem foi para mim o princípio da salvação, também a festiva solenidade do seu Nascimento me dê aumento de paz”.
Referências: (1) Indulgência de 100 dias. (2) Or. festi.
(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III: Desde a Duodécima semana depois de Pentecostes até ao fim do ano Eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 355-357)
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