Jesus cresce em idade, em sabedoria, e em graça
Do livro "Meditações de Santo Afonso de Ligório para cada dia do ano"... Et Iesus proficiebat sapientia et aetate et gratia...
Et Iesus proficiebat sapientia et aetate et gratia apud Deum et homines – “E Jesus crescia em sabedoria, e em idade e em graça diante de Deus e dos homens” (Lc 2, 52)
Sumário. Posto que Jesus, desde o primeiro instante de sua vida, estivesse enriquecido de todos os carismas celestiais; contudo, crescendo em idade, crescia também em sabedoria, isso é, manifestava-a mais e mais. No mesmo sentido se diz que crescia em graça diante de Deus e dos homens. Nós também, com o progredir dos anos, devíamos ter crescido no amor, mas talvez tenha aumentado a nossa tibieza e culpabilidade. Imploremos o perdão do Senhor com o propósito de sermos para o futuro mais fervorosos.
I. Falando da morada do Menino Jesus na casa de Nazaré, diz São Lucas: Et Iesus proficiebat — “E Jesus crescia” . Assim como ia crescendo em idade, crescia também em sabedoria. Não como se Jesus adquirisse conhecimento mais perfeito das coisas, como nós; porquanto, desde o primeiro instante da sua vida, foi enriquecido de toda a ciência e sabedoria divina: In quo sunt omnes thesauri sapientiae et scientiae absconditi (1) — “No qual (Jesus) estão encerrados todos os tesouros da sabedoria e da ciência” . Mas diz-se que crescia, porque com o correr dos anos ia manifestando mais e mais a sua sublime sabedoria.
E neste sentido também se diz que Jesus crescia em graça diante de Deus e dos homens. Diante de Deus, porquanto todas as suas ações divinas, posto que não Lhe aumentassem a santidade nem os merecimentos (visto que desde o princípio foi Jesus repleto de santidade e de merecimentos, de modo que de sua plenitude nós recebemos todas as graças: De plenitudine eius accepimus omnes (2), todavia as obras do Redentor, consideradas em si mesmas, eram suficientes para Lhe acrescentar graças e méritos. Jesus crescia também em graça diante dos homens, crescendo em beleza e amabilidade. Oh! Como Jesus se ia tornando sempre mais querido e amável em sua adolescência, dando sempre mais a conhecer as belas qualidades que o faziam tão amável! Com que alegria obedecia o santo Menino a Maria e José! Com que recolhimento de espírito trabalhava! Com que modéstia se alimentava! Com que moderação falava! Com que doçura e afabilidade conversava com todos! Com que devoção orava! Numa palavra, cada ação, cada palavra, cada movimento de Jesus Cristo abrasava e feria o coração de todos que o viam e em particular de Maria e José, que tinham a ventura de O ver sempre junto de si. Oh! Como estavam estes santos Esposos sempre atentos a contemplar e admirar todas as ações, palavras e movimentos do Homem-Deus!
II. Crescei, amável Jesus, crescei para mim. Crescei para me ensinar por vossos divinos exemplos as vossas belas virtudes. Crescei para consumar o sacrifício da cruz, do qual depende a minha salvação eterna. Oh meu Senhor, fazei com que eu também cresça cada vez mais no vosso amor e graça. No passado, ai! Cresci somente em ingratidão para convosco, que tanto me haveis amado. Fazei, ó meu Jesus, com que no futuro seja o contrário; Vós conheceis a minha fraqueza; Vós deveis dar-me luz e força. Fazei com que eu compreenda quanto mereceis ser amado. Vós sois um Deus de infinita beleza e de infinita majestade, que não recusastes descer do céu, para vos fazerdes homem e levardes por nosso amor uma vida desprezada e penosa, terminada por uma morte tão cruel. Onde poderíamos achar amigo mais amável e mais amante?
Insensato que sou! No passado não vos quis conhecer e por isso Vos perdi. Peço-Vos perdão, já que de toda a minha alma me arrependo e tomo a resolução de ser todo vosso. Mas, ó meu Jesus, ajudai-me; recordai-me sem cessar a vida penosa e a morte dolorosa que sofrestes por meu amor. Dai-me luz e dai-me força. Quando o demônio me apresentar algum fruto vedado, dai-me firmeza para desprezá-lo; não permitais, que por qualquer gozo vil e passageiro eu Vos perca, ó Bem infinito. Amo-Vos, ó meu Jesus, morto por mim; amo-Vos, ó Bondade infinita; amo-Vos, ó amante da minha alma. — Ó Maria, sois vós a minha esperança; é pela vossa intercessão que espero obter a graça de amar a meu Deus de hoje em diante para sempre, e de nunca mais amar outra coisa que não seja Deus.
Referências:
(1) Cl 2, 3 (2) Jo 1, 16
(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo I: Desde o Primeiro Domingo do Advento até a Semana Santa Inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 186-188)
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