Necessidade da Fé para contemplar com fruto o Mistério da Encarnação
Do livro "Meditações de Santo Afonso de Ligório para cada dia do ano"... Invenietis infantem pannis involutum, et positum i...
Invenietis infantem pannis involutum, et positum in praesepio – “Achareis um menino envolto em panos, e posto em uma manjedoura” (Lc 2, 12)
Sumário. Quem entra sem fé na Gruta de Belém, terá apenas sentimentos de piedade ao ver um menino tão tenro em tamanha pobreza; mas, quem entra com fé, não poderá deixar de amar a Jesus reduzido por nosso amor a tal estado. Avivemos, pois, a nossa fé e consideremos o excesso de amor de um Deus em se mostrar a nós feito criança, envolta em panos, tiritando de frio, necessitado de todas as coisas. E para que? Para ganhar o amor dos homens, suas criaturas.
I. Quando a Igreja contempla o mistério prodigioso de um Deus nascido numa gruta, exclama cheia de pasmo: O Magnum mysterium! O admirabile sacramentum! (1) — Ó grande mistério! Ó sacramento admirável! Os animais vêem o seu Senhor nascido e posto numa manjedoura! — Para contemplar com amor e ternura o nascimento de Jesus Cristo, devemos pedir ao Senhor o dom de uma fé viva. Se entramos sem fé na Gruta de Belém, teremos apenas sentimentos de piedade, ao vermos um menino reduzido a tal extrema pobreza, que, nascendo no rigor do inverno, seja posto numa manjedoura de animais, sem fogo numa gruta fria.
Mas, se entramos com fé e consideramos o excesso de bondade e amor da parte de um Deus que quis aparecer entre os homens como menino pequenino, envolto em panos, posto sobre a palha, chorando e tremendo de frio, incapaz de se mover, necessitado de um pouco de leite para viver, como será possível que alguém não se sinta atraído e docemente constrangido a dar todo o seu amor ao Deus-Menino, que se reduziu a tal extremo para se fazer amar?
Diz São Lucas que os pastores, depois de terem visitado Jesus Cristo na gruta, voltaram glorificando e louvando a Deus por tudo o que tinham ouvido e visto: reversi sunt glorificantes et laudantes Deum (2). E todavia que é que eles tinham visto? Nada, senão uma criancinha pobre, tiritando de frio, sobre um pouco de palha. Mas, porque eram iluminados pela luz da fé, reconheceram naquele Menino o excesso do amor divino, e abrasados neste amor, louvavam e glorificavam a Deus por terem tido a sorte ditosa de ver um Deus aniquilado ( semetipsum exinanivit (3)) e humilhado por amor dos homens.
II. Terno e amável Menino, embora eu Vos veja tão pobre nesta palha, reconheço-Vos e adoro-Vos como meu Senhor e meu Criador. Compreendo o que Vos reduziu a tão miserável estado: o vosso amor para comigo. Ó meu Jesus, quando, após isto, penso no modo pelo qual Vos tratei no passado, nas injúrias que Vos fiz, espanto-me de que tenhais podido suportar-me. Ah! Malditos pecados, que tendes feito? Enchestes de amargura o Coração tão amante do meu Senhor.
Por piedade, caro Salvador meu, pelos padecimentos que sofrestes e pelas lágrimas que derramastes na gruta de Belém, dai-me lágrimas, dai-me uma grande dor, que me faça chorar toda a minha vida os desgostos que Vos causei. Abrasai-me de amor para convosco; mas, de amor tal que compense todos os meus crimes contra Vós. Amo-Vos, meu pequenino Salvador, amo-Vos, ó Deus feito menino, amo-Vos, meu amor, minha vida, meu tudo. † Jesus, meu Deus, amo-Vos sobre todas as coisas, e prometo-Vos não amar dora em diante senão a Vós . Ajudai-me com a vossa graça, sem a qual nada posso.
— Ó Maria, minha esperança, alcançais de vosso divino Filho o que quereis: rogai-lhe que me conceda o seu santo amor. Minha Mãe, atendei-me.
Referências: (1) Off. Nativ. Resp II. (2) Lc 2, 20 (3) Fl 2, 7
(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo I: Desde o Primeiro Domingo do Advento até a Semana Santa Inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 467-469)
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