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Terça-feira da Terceira Semana do Advento

No inferno sofre-se sempre

Do livro "Meditações de Santo Afonso de Ligório para cada dia do ano"... Cruciabuntur die ac nocte in saecula saeculorum – ...


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Meditações para todos os dias

Santo Afonso

Cruciabuntur die ac nocte in saecula saeculorum – Serão atormentados dia e noite pelos séculos dos séculos (Ap 20, 10)

Sumário. Consideremos que o inferno é um cárcere tristíssimo, no qual se sofrem todas as penas, e todas elas eternamente. De sorte que passarão cem mil séculos, passarão cem milhões, e o inferno estará ainda no seu princípio. Ora, esse inferno nos está também preparado, se não nos aplicarmos ao serviço de Deus, se o ofendermos pelo pecado. Quantos dentre os que, como nós, meditaram nesse horroroso cárcere, estão agora nele queimando para sempre!

I. Considera que o inferno não tem fim; sofrem-se nele todas as penas, e todas elas eternamente. De sorte que passarão cem anos de sofrimentos, passarão mil, e o inferno terá apenas começado. Passarão cem mil, cem milhões, mil milhões de anos e de séculos, e o inferno estará ainda no seu princípio. – Se um anjo fosse nesta hora dizer a um reprobo que Deus o quer livrar do inferno, mas quando? Quando tiverem passado tantos milhões de séculos quantas são as gotas de água, as folhas das árvores, e os grãos de areia que existem no oceano e na terra, vós havereis de ficar pasmos; mas a verdade é que aquele reprobo sentiria mais alegria com tal notícia do que vós se vos dessem a notícia de haverdes sido eleito rei de um grande reino. Sim, porque o reprobo diria consigo: É verdade que devem passar tantos séculos, mas chegará o dia em que terminarão. Porém, os séculos hão de passar, e o inferno estará no seu princípio; suceder-se-á tantas vezes igual número de séculos, quantos são os grãos de areia, as gotas de água, as folhas das árvores, e ainda o inferno estará no seu princípio. – Cada reprobo de boa vontade proporia a Deus esta condição: Senhor, aumentai as minhas penas tanto quanto vos aprouver; prolongai-as tanto quanto for da vossa vontade, mas ponde-lhe um termo qualquer dia e ficarei contente. Mas não, esse fim nunca chegará.

Se o pobre reprobo pudesse ao menos iludir-se e consolar-se dizendo: Quem sabe? Talvez um dia Deus se apiede de mim e me livre do inferno! Mas não, o desgraçado reprobo terá incessantemente diante da vista a sentença de sua condenação eterna, e dirá: Todas as penas que agora estou sofrendo, o fogo, os lamentos, nunca mais terão fim? Nunca! E quanto tempo durarão? Sempre, sempre! Ó nunca! Ó sempre! Ó eternidade! Ó inferno! Como? Os homens o creem, e pecam e continuam a viver no pecado?

II. Irmão meu, põe sentido; lembra-te de que o inferno é também para ti, se cometeres o pecado. Já está ardendo essa fornalha horrorosa debaixo de seus pés, e no momento em que estás lendo isto, quantas almas caem nela! Lembra-te que, se uma vez caíres ali, nunca mais poderás sair. – Se alguma vez mereceste o inferno, dá graças a Deus por não te ter lançado nele. Procura o mais depressa possível reparar o mal feito, chora os teus pecados e emprega os meios mais aptos para a tua salvação. Confessa-te quanto antes, lê cada dia um pouco em um ou outro livro espiritual; pratica a devoção a Maria Santíssima recitando cada dia o Terço e jejuando cada sábado: resiste às tentações, chamando logo por Jesus e Maria: foge das ocasiões do pecado, e se Deus te chamar para deixares o mundo, faze-o, obedece. Tudo quanto se fizer para livrar-se de uma eternidade de penas, é pouco, é nada: Nulla nimia securitas, ubi periclitatur aeternitas(1) – <> Quantos eremitas foram viver em grutas nos desertos, afim de fugir do inferno! E tu, o que fazes depois de teres merecido tantas vezes o inferno? Que fazes? Que fazes? Vê que te condenas. Entrega-te a Deus e dize-lhe:

Eis-me aqui, ó Senhor meu: quero fazer tudo quanto me pedirdes. Graças Vos dou por me terdes suportado até hoje com tanta paciência; agradeço-Vos as luzes que agora me destes, fazendo-me ver a minha insensatez, e o mal que fiz ultrajando-Vos com tão numerosos pecados. Ah! Jesus, doce Salvador meu, detesto-os e arrependo-me de toda a minha alma. Amo-Vos sobre todas as coisas. Vós não me condenastes ao inferno, afim de que eu comece a amar-Vos. Sim, quero amar-Vos, e quero amar-Vos muito. Dai-me a força para compensar com o meu amor os desgostos que Vos tenho dado. † Doce Coração de Maria, sede minha Salvação (2)

Referências: (1) São Bernardo (2) Indulgência de 300 dias, cada vez

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo I: Desde o Primeiro Domingo do Advento até a Semana Santa Inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 48-50)

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