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Segunda-feira da Vigésima Terceira Semana depois de Pentecostes

Remorso do condenado por causa do bem que perdeu

Do livro "Meditações de Santo Afonso de Ligório para cada dia do ano"... Perditio tua, Israel; tantummodo in me auxilium tu...


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Meditações para todos os dias

Santo Afonso

Perditio tua, Israel; tantummodo in me auxilium tuum – “A tua perdição, ó Israel, toda vem de ti; só em mim está o teu auxílio” (Os 13, 9)

Sumário. O que mais atormenta o réprobo no inferno é o ver que perdeu o céu e o Bem supremo, que é Deus; e perdeu-O não por qualquer acidente ou por malevolência d´outrem, mas por sua própria culpa. Meu irmão, se no passado nós também tivemos a insensatez de renunciar por malícia própria ao paraíso, remediemo-lo enquanto houver tempo, antes que tenhamos de chorar eternamente a nossa desgraça. Talvez seja este o último apelo que Deus nos dirige.

I. O tormento mais feroz do réprobo será reconhecer o grande bem que perdeu. Segundo São João Crisóstomo, os réprobos sentirão mais aflição pela perda do paraíso que pelos tormentos do inferno: Plus coelo torquentur, quam gehenna. — Refere-se que a infeliz Isabel, rainha de Inglaterra, disse:

“Conceda-me Deus quarenta anos de reinado e renuncio ao paraíso.”

Teve a infeliz esses quarenta anos de reinado; mas que dirá agora, que a sua alma saiu deste mundo? Sem dúvida já não pensa da mesma forma. Como não deve estar aflita e desesperada, ao pensar que, por quarenta anos de reinado, passados em temores e angústias, perdeu para sempre o reino celestial?

Mas, o que por toda a eternidade afligirá mais o réprobo será reconhecer que perdeu o céu e o soberano bem que é Deus, e que o perdeu não por algum mau acidente, nem pela malevolência d´outrem, mas por sua própria culpa. Verá que foi criado para o paraíso, verá que Deus lhe pôs na mão a escolha entre a vida e a morte eterna: Ante hominem vita et mors… quod placuerit ei dabitur illi (1). Verá, pois, que esteve na sua mão, se quisera, o tornar-se eternamente feliz. Mas verá igualmente que de seu motuproprio se quis precipitar nesse abismo de suplícios, de onde nunca poderá sair e de onde ninguém o procurará livrar.

Verá então o miserável que muitas pessoas de seu conhecimento, que passaram pelos mesmos, quiçá por maiores perigos de pecar, chegaram à salvação, ou porque se souberam conter recomendando-se a Deus, ou, se caíram, souberam levantar-se a tempo e dar-se a Deus. Ele, porém, por não ter querido pôr um termo a suas desordens, veio a acabar tão deploravelmente no inferno, nesse mar de tormentos, sem esperança de poder remediar a sua desgraça. Oh, que cruel remorso! Oh, que desespero lancinante!

II. Meu irmão, se no passado foste tão insensato para querer sacrificar o paraíso e Deus a uma indigna satisfação, procura quanto antes aplicar o remédio, agora que ainda é tempo. Não sejas obstinado em teu desvairamento. Receia ir chorar um dia a tua desgraça na eternidade.

— Quem sabe se a presente consideração não será o último apelo que Deus te dirige? Se desde já não mudares de vida, quem sabe se no primeiro pecado mortal que venhas a cometer, o Senhor não te abandonará para te condenar em seguida a sofrer eternamente entre essa multidão de insensatos, que estão agora no inferno e lá confessam seu erro, mas confessam-no desesperados, vendo que a sua desgraça é irremediável. Quando o demônio te tentar de novo ao pecado, lembra-te do inferno e recorre a Deus e à Santíssima Virgem . O pensamento do inferno te livrará do inferno: Memorare novissima tua, et in aeternum non peccabis (2) — “Lembra-te de teus novíssimos e nunca jamais pecarás”.

Ah! Meu Bem supremo, quantas vezes Vos perdi por um nada e quantas vezes mereci perder-Vos para sempre! Tranquiliza-me, porém, a palavra de vosso Profeta: Laetetur cor quaerentium Dominum (3) — “Alegre-se o coração dos que buscam o Senhor” . Não devo, pois, perder a esperança de Vos tornar a encontrar, ó meu Deus, se Vos procurar com coração sincero. Ó Senhor, neste momento suspiro mais pela vossa graça que por qualquer outro bem. Consinto em ser privado de tudo, até da vida, mas não em ver-me privado de vosso amor. Amo-Vos, ó Jesus meu Deus, sobre todas as coisas e por isso que Vos amo me arrependo de Vos ter ofendido.

Ó meu Deus, perdido por mim e desprezado, perdoai-me já e fazei que Vos encontre sem demora, porque nunca mais Vos quero perder. Se me receberdes novamente em vosso amor, quero renunciar a tudo e amar só a Vós: assim o espero de vossa misericórdia. — Padre Eterno, atendei-me pelo amor de Jesus Cristo. Perdoai-me e concedei-me a graça de nunca mais me separar de Vós, porque, se viesse a perder-Vos de novo por própria culpa, devia com razão recear que me abandonásseis.

— Ó Maria, ó reconciliadora dos pecadores, reconciliai-me com Deus. Guardai-me debaixo de vossa proteção, a fim de que nunca mais chegue a perder meu Deus.

Referências:

(1) Eclo 15, 18 (2) Eclo 7, 40 (3) Sl 140, 3

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III: Desde a Décima Segunda Semana depois de Pentecostes até o fim do ano eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1922, p. 209-212)

Tópicos nesta meditação:

PecadoProcastinação
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