O jejum
Do livro "Meditações para a Quaresma dos textos de São Tomás de Aquino"... I. Pratica-se o jejum por três motivos: 1. Prime...
I. Pratica-se o jejum por três motivos:
- Primeiro, para reprimir as concupiscências da carne. Donde o dizer o Apóstolo (2Co. 6, 5): "Nos jejuns, na necessidade", porque o jejum conserva a castidade. Pois, como diz Jerônimo, "sem Ceres e Baco Vênus esfria", i. é, pela abstinência da comida e da bebida a luxúria se amortece.
- Segundo, praticamos o jejum para mais livremente se nos elevar a alma na contemplação das sublimes verdades. Por isso, refere a Escritura que Daniel (Dn 10), depois de ter jejuado três semanas, recebeu de Deus a revelação.
- Terceiro, para satisfazer pelos nossos pecados. Por isso, diz a Escritura (Jl. 2, 12): "Convertei-vos a mim de todo o vosso coração em jejum e em lágrimas e em gemido". E é o que ensina Agostinho num sermão: "O jejum purifica a alma, eleva os sentidos, sujeita a carne ao espírito, faz-nos contrito e humilhado o coração, dissipa o nevoeiro da concupiscência, extingue os odores da sensualidade, acende a verdadeira luz da castidade".
II. O jejum é objeto de preceito. Pois o jejum é útil para delir e coibir as nossas culpas e elevar-nos a mente para as coisas espirituais. Ora, cada um está obrigado, pela razão natural, a jejuar tanto quanto lhe for necessário para conseguir tal fim. Por onde, o jejum, em geral, constitui um preceito da lei natural. Mas, a determinação do tempo e do modo de jejuar, conforme à conveniência e à utilidade do povo Cristão, constitui um preceito de direito positivo, instituído pelos superiores eclesiásticos. E tal é o jejum da Igreja, diferente do jejum natural.
III. Os tempos de jejum estão convenientemente determinados pela Igreja. O jejum é ordenado por dois motivos: para delir a culpa e para nos elevar a mente às coisas espirituais. Por isso, os jejuns foram ordenados especialmente naqueles tempos em que, sobretudo, devemos os fiéis nos purificar dos pecados e elevar a mente a Deus pela devoção. O que sobretudo se dá antes da solenidade Pascal, quando as culpas são delidas pelo batismo, celebrado solenemente na vigília da Páscoa, em memória da sepultura do Senhor; pois, pelo batismo, somos sepultados com Cristo para "morrer ao pecado", na frase do Apóstolo (Rm. 6, 4). E também na festa Pascal devemos, sobretudo, pela devoção, elevar a mente à glória da eternidade, a que Cristo deu começo pela sua ressurreição. Por isso, imediatamente antes da solenidade Pascal, a Igreja nos manda jejuar; e pela mesma razão, nas vigílias das principais festividades, quando devemos nos preparar devotamente para celebrar as festas que se vão celebrar.
Ia IIae, q. CXLVII, a. 1, 3, 5.
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