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A meditação (definição)

No seu livro "Teologia da Perfeição Cristã" o padre dedica um capítulo sobre a meditação entitulado "Segundo grau de oração: a meditação" no qual, talvez, exista uma das melhores e mais claras definições do que é a Meditação Católica.


  • A Natureza da Meditação

  • Importância e necessidade da meditação

A Natureza da Meditação

A meditação discursiva pode definir-se como a aplicação racional da mente a uma verdade sobrenatural para nos convencermos dela e nos movermos a amá-la e praticá-la com a ajuda de graça. O exame detalhado da definição nos dará a conhecer os elementos fundamentais deste modo de oração.

A APLICAÇÃO RACIONAL DA MENTE... É o elementos mais típico e característico da meditação, que a distingue perfeitamente dos demais graus de oração mental. Todos supõe uma aplicação da mente ao objeto que se está considerando ou contemplando (é, simplesmente, a atenção, que é indispensável e comum a todos os graus de oração ascético e místico), porém, a meditação tem como nota típica e característica uma aplicação racional, discursiva, por modo de raciocínio. De tal maneira é essencial este elemento, que, se falta, faz desaparecer a meditação enquanto tal. Quando o discurso desaparece, a alma se deu à distração, ou na oração afetiva, ou na contemplação; e em qualquer destes três casos, a meditação não existe mais.

Evidentemente que o discurso da razão está muito longe de ser o fim da meditação como oração cristã. Em que se distinguiria então do simples estudo ou especulação sobre a verdade revelada? Como veremos em seguida, esse discurso se dirige a uma finalidade afetiva e prática, sem a qual deixaria de ser oração. Porém, como o elemento prévio ou preparatório é tão indispensável, que sem ele não há meditação propriamente dita. Toda a meditação implica discurso, embora não seja este o elemento mais importante da mesma.

... A UMA VERDADE SOBRENATURAL... É evidente desde o momento que nos encontramos diante de uma oração, não diante de um estudo científico de um ramo qualquer do saber humano. Essa verdade sobrenatural pode ser muito variada: um texto da Sagrada Escritura, uma passagem da vida de Cristo ou de um santo qualquer, um princípio teológico, uma fórmula litúrgica, etc., etc.; mas sempre com a dupla finalidade que vamos explicar a seguir.

... PARA NOS CONVENCERMOS DELA... A meditação como oração cristã tem duas finalidades: uma intelectiva e outra afetiva. A intelectiva tem por objeto chegar a convicções firmes e enérgicas que resistem ao embate das influências contrárias que possam sobrevir por parte dos inimigos da alma. Sem estas convicções firmes, a alma sucumbiria facilmente diante de tais acometidas. O puramente sentimental e sensível pode produzir um efeito momentâneo de felicidade e paz; mas não tendo seu apoio e fundamento na firme convicção intelectiva, se afundará sem resistência ao menor sopro da paixão. Não se pode construir uma casa sólida sobre a areia movediça do sentimento. é preciso o fundamento pétreo e incomovível das convicções profundamente enraizadas na inteligência. A alcançá-las se dirige diretamente esta primeira finalidade da meditação.

Mas somente isto não basta. Nem sequer é a principal enquanto oração. Essas firmes convicções podem também adquirir-se com o simples estudo da verdade sagrada sem intenção alguma de oração. Por isso, é necessário acrescentar a segunda e mais importante finalidade, que acabará de perfilar o conceito cabal da meditação cristã.

... E NOS MOVERMOS A AMÁ-LA ... Eis aqui o elemento mais importante da meditação enquanto oração cristã. É necessário que a vontade se lance ao amor da verdade que o intelecto lhe apresenta elaborada por seu discurso. Se for transcorrido todo tempo dedicado à meditação nos procedimentos discursivos preliminares, na realidade não houve oração. Seria um estudo mais ou menos orientado à piedade, mas de modo algum um exercício da oração:

"Só quero que estejais advertidas que, para aproveitar muito neste caminho e subir às moradas que desejarmos, a coisa não está em pensar muito, senão amar muito" (Santa Teresa, Quartas Moradas 1,7; Fundações 5,2).

Esta começa propriamente quando a alma, excitada pela verdade sobrenatural que o intelecto convencido lhe apresenta, prorrompe em afetos e atos de amor a Deus, com que estabelece um contato íntimo e profundo que dá à meditação anterior toda sua razão de ser enquanto oração cristã.

Claro que é preciso que este amor e entusiasmo afetivo não fique nas regiões puras do coração ou da fantasia. É necessário que se traduza em enérgicas resoluções práticas. E a isto corresponde o novo elemento da definição, que termina e completa o conceito integral da oração discursiva.

... E PRATICÁ-LA COM A AJUDA DA GRAÇA. Toda meditação bem feita deve terminar em um propósito e em uma oração. Um propósito enérgico de levar à prática as consequências que se depreendem daquela verdade ou mistério que temos considerado e amado e uma oração a Deus pedindo sua graça e bênção para poder cumprí-lo de fato, já que absolutamente nada podemos fazer sem Ele.

Nunca se insistirá bastante nestes dois últimos elementos da definição: o amor de Deus e o propósito prático, enérgico e decidido. São legiões incontáveis as almas piedosas que se exercitam diariamente na meditação e que, todavia, não retiram dela nenhum proveito prático. A explicação deve ser buscada no modo defeituoso de fazê-la. Insistem demasiado no que não é senão mera preparação para a oração propriamente dita. Passam o tempo lendo, discorrendo ou em perpétua distração semi-voluntária. O resultado é que quando termina o tempo destinado à oração não permaneceram nela, na realidade, um só instante. De sua alma não brotou um só ato de amor, uma aspiração a Deus, um propósito prático, concreto e enérgico. "São almas alijadas", dizia Santa Teresa de Jesus, "que, se não vem o próprio Senhor a mandar que se levantem, como ao que fazia trinta anos que estava na piscina, tem farta má sorte e estão em grande perigo" (Primeiras Moradas, 1,8).

Importância e necessidade da meditação

A meditação, que é convenientíssima para salvar-se, é absolutamente imprescindível para empreender seriamente o caminho da própria santificação. Vamos examinar estas duas afirmações.

É CONVENIENTÍSSIMA PARA SALVAR-SE. A imensa maioria dos que vivem habitualmente em pecado assim estão simplesmente porque não refletem. Já o disse a muitos séculos o profeta Jeremias, e suas palavras continuam sendo de palpitante atualidade: "Toda a terra é desolação por não ter quem reconsidere em seu coração" (Jr 12,11). No fundo não tem mal coração nem sentem inimizade alguma com as coisas de Deus ou de sua eterna salvação; mas, entregues desenfreadamente às atividades puramente naturais (negócios, etc.) e esquecidos inteiramente dos grandes interesses de sua alma, facilmente se deixam levar pelo ímpeto de suas paixões desordenadas, que não encontram nenhum obstáculo nem freio para expandir-se livremente, e passam anos inteiros e as vezes a vida inteira submergidos no pecado. A prova mais clara e evidente de que sua triste situação espiritual obedecia no fundo, mais do que a perversidade ou maldade de coração, a uma frivolidade irreflexiva procedente da ausência absoluta de todo movimento de introspeção, e que quando estes tais, por azar ou providência divina, acertam em praticar uma série de exercícios espirituais ou assistem aos atos de uma missão geral freqüentemente experimentam uma impressão fortíssima, que lhes lança muitas vezes a uma verdadeira conversão, traduzida a partir dali em uma vida cristã séria e inatacável.

Com razão, pois, afirma Santo Afonso de Ligório que a oração mental é incompatível com o pecado. Com os demais exercícios pode a alma seguir vivendo no pecado, mas com a oração mental bem feita não poderá permanecer nele muito tempo: ou deixará a oração ou deixará o pecado. É, pois, de maior importância para a salvação eterna a prática assídua e cuidadosa da meditação cristã.

É ABSOLUTAMENTE IMPRESCINDÍVEL PARA A ALMA QUE ASPIRE SANTIFICAR-SE. O conhecimento de si mesmo, a humildade profunda, o recolhimento e solidão, a mortificação dos sentidos e outras muitas coisas absolutamente necessárias para chegar à perfeição apenas se concebem e são moralmente impossíveis sem uma vida séria de meditação bem preparada e assimilada. A alma que aspira a santificar-se entregando-se completamente à vida apostólica com declínio e prejuízo de sua vida de oração, já pode despedir-se da santidade. A experiência confirme com toda certeza e evidência que absolutamente nada pode suprir a vida de oração, nem sequer a recepção diária dos Santos Sacramentos. São legiões de almas que comungam e os sacerdotes que celebram a santa missa diariamente e que levam, todavia, uma vida espiritual medíocre e enferma. A explicação não é outra além da falta de oração mental, seja porque a omitem totalmente ou porque a fazem de maneira tão imperfeita e rotineira, que quase equivale a sua omissão. Repetimos o que dissemos mais acima: sem oração, sem muita oração, é impossível chegar a perfeição cristã, qualquer que seja nossa estado de vida ou as ocupações as quais nos dediquemos. Nenhuma delas, por santa que seja em si, pode suprir a oração. O diretor espiritual deve insistir sem descanso neste ponto. A primeira coisa que deve fazer quando uma alma se confia à sua direção é levá-la à vida de oração. Não ceda neste ponto. Peça contas de como está indo, que dificuldades encontra, indique os meios de superá-las, as matérias que deve meditar com preferência, etc. Não conseguirá centrar uma alma até que consiga que se entregue à oração de uma maneira assídua e perseverante, com preferência a todos os demais exercícios de piedade.

Embora seu exercício diário e prolongado é absolutamente indispensável, está muito longe de sê-lo o método ou procedimento concreto que deva seguir. Vamos examinar esta questão.

O método de fazer meditação segundo padre Royo Marín