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Análise histórica e resumo dos principais métodos de meditação

No seu livro "Teologia da Perfeição Cristã" o padre faz uma excelente análise dos métodos de meditação católica. Ele divide os métodos de uma forma temporal e também os agrupa por estilo.


  • O método (forma) da meditação

  • Na antiguidade

  • A partir do século XVI

  • Matérias que se devem meditar

  • Detalhes complementares

O método (forma) da meditação [0]

Um duplo obstáculo deve ser evitado no que diz respeito ao método ou forma de praticar a meditação: a excessiva rigidez e o excessivo abandono. No princípio da vida espiritual é pouco menos que indispensável a sujeição a um método concreto e particularizado. A alma não sabe andar por si só, e necessita, como a meninos, de andadores. Mas na medida que vai crescendo e desenvolvendo-se sentirá cada vez menos a necessidade daqueles moldes, e chegará o momento em que seu emprego rigoroso representaria um verdadeiro obstáculo e impedimento para a plena expansão da alma em seu vôo livre até Deus.

Vamos recolher aqui com brevidade esquemática alguns dos principais métodos de meditação que foram propostos ao longo dos séculos. Todos eles se praticam na Igreja e todos tem suas vantagens e inconvenientes. A alma, orientada por seu diretor espiritual, ensaiará o procedimento que melhor se encaixe com seu próprio temperamento e procurará ater-se a ele enquanto o movimento interior de seu espírito não se oriente até outros horizontes. Ao fazer a eleição tenha-se em conta, sobretudo, que o melhor procedimento para cada um é o que lhe impulsione com maior eficácia ao amor de Deus e desprezo de si mesmo.

Na antiguidade

Segundo Cassiano, a forma de oração mental praticada pelo Padres antigos consistiria em repetir muitas vezes com atenta consideração e afeto o versículo "Deus in adiutorium meus intende" [Vinde ò Deus em meu auxílio] do salmo 69 (Ps. 69, 2)

Na Idade Média

São Bernardo em seu livro De Consideratione 24, dirigido ao Papa Eugênio III, aponta ali um método de oração mental, mas em linhas obscuras e imprecisas.

Hugo de São Vitor em algumas de suas obras assinala cinco momento: leitura, meditação, oração, operação e contemplação. Em seu livro De Modo Dicendi et Meditandi indica somente três: pensamento (cogitatio), meditação e contemplação.

Guido Cartuxano recomenda quatro: leitura, meditação, oração e contemplação, dos quais "os precedentes sem os seguintes aproveitam pouco ou nada; mas os seguintes sem os precedentes, nunca ou rara vez se podem ter".

Outros muitos autores, principalmente São Boaventura e Gérson, seguiram expondo seus sistemas

A partir do século XVI

A partir do século XVI se delineiam com muita precisão, embora partindo de distintos pontos de vista, diversos métodos de oração mental.

Frei Luís de Granada ensina cinco parte ou momentos: preparação, leitura, meditação, ação de graças e petição.

São Pedro de Alcântara em seu Tratado da Oração, que não é senão uma adaptação e resumo do livro do Pe. Granada, coloca seu partes: preparação, leitura, meditação, ação de graças, oferecimento e petição. O seguem a maior parte dos franciscanos.

O Pe. Jerônimo Graciano e a maior parte dos carmelitas posteriores colocam sete: preparação, leitura, meditação, contemplação, ação de graças, petição e epílogo. Porém, o

Pe. João de Jesus Maria e outros depois dele assinalam somente sem, suprimindo a contemplação.

Santo Inácio de Loyola assinala em seus exercícios espirituais vários métodos de oração mental: a aplicação das três potências: memória, intelecto e vontade (n. 45-54); contemplação imaginária dos mistérios da vida de Cristo (n. 101-109 e n. 110-117); aplicação dos cinco sentidos (n. 65-71 e 121-126); três "modos de orar" (n. 238 ss), que consistem: o primeiro, em uma espécie de exame em torno dos mandamentos, pecados capitais, etc.; o segundo, o considerar uma por uma as palavras de uma determinada fórmula de oração, por exemplo, o Pai Nosso; e o terceiro (que o Santo chama de "oração por compasso"), em pronunciar de uma maneira rítmica e compassada (a cada respiração) alguma palavras de uma fórmula determinada (o Pai Nosso, por exemplo) enquanto se vai meditando nela. Na famosa "contemplação para alcançar o amor" (n. 230- 7) propõe um método para ascender das criaturas a Deus, à semelhança de São Boaventura em seu Itinerário.

Dentro todos os métodos inacianos, o mais conhecido e generalizado é o da aplicação das três potências. Eis aqui em esquema seus diferentes momentos:

  1. Preparação e prelúdio
    1. Ato de fé na presença de Deus e humilde reverência e acatamento.
    2. Oração preparatória geral, pedindo a graça de fazer bem a meditação.
    3. Primeiro prelúdio: composição do lugar (exercício da imaginação).
    4. Segundo prelúdio: petição da graça especial que se quer retirar da meditação.
  2. Corpo da meditação, ou exercício das potências.
    1. A memória, recordando o feito ou assunto com suas variadas circunstâncias.
    2. O intelecto examinando.
      1. Que devo considerar sobre esta matéria?
      2. Que consequências devo retirar para minha vida?
      3. Que motivos tenho para isto?
      4. Como tenho me conduzido hoje neste ponto?
      5. Como devo portar-me de agora em diante?\
      6. Que dificuldades terei que vencer?
      7. Que meios devo empregar para conseguí-lo?
    3. A vontade
      1. Excitando a todas as demais potências a orar.
      2. Prorrompendo em afetos ao longo da oração, especialmente no final.
      3. Formando propósitos práticos, concretos, enérgicos, humildes e confiantes.
  3. Conclusão
    1. Colóquios: com Deus Pai, Jesus Cristo, a Santíssima Virgem e os santos.
    2. Exame.
      1. Como fiz a meditação?
      2. Ao que se deve tê-la feito bem ou mal?
      3. Que consequência prática retirei, que petições fiz, que propósitos práticos, que luzes recebi?
      4. Escolher um pensamento como "ramalhete espiritual" para têlo presente durante todo o dia

São Francisco de Sales, seguindo Santo Inácio e Frei Luís de Granada, assinala a preparação (presença de Deus, invocação, proposição do mistério), considerações, afetos, propósitos e conclusão com o fruto e ramalhete espiritual.

Santo Afonso de Ligório propõe um método parecido: preparação (fé, humildade, contrição, petição), consideração, afetos, petição, propósitos, conclusão (ação de graças, renovação dos propósitos, petição de auxílio e ramalhete espiritual).

O chamado Método de São Suplício é o que se usa no seminário de mesmo nome em Paris. Procede do Cardeal De Berulle, com retoques do Pe. De Condren, do Venerável Olier e de Tronson. É dos mais conhecidos e generalizados, e tem por ideia básica e fundamental a união com o Verbo Encarnado, que constitui a quintessência da espiritualidade beruliana. Eis aqui uma visão esquemática do mesmo:

  1. Preparação
    1. Remota: uma vida de recolhimento e de sólida piedade.
    2. Próxima:
      1. Escolher o ponto na noite do diante anterior: prever as principais considerações e propósitos que iremos formar.
      2. Dormir pensando na matéria da meditação.
      3. Ao levantar-se aproveitar o primeiro tempo livre para fazer a meditação.
    3. Imediata:
      1. Colocar-se na presença de Deus (especialmente em nosso coração).
      2. Humilharmo-nos profundamente: ato de contrição.
      3. Invocar ao Espírito Santo: Veni Sancte Spiritus [Vinde Espírito Santo].
  2. Corpo da oração.
    1. Primeiro ponto: Adoração (Jesus diante de nós).
      1. Considerar em Deus, em Jesus Cristo ou em algum santo seus afetos, palavras e ações em torno do que iremos meditar.
      2. Render-lhe homenagem de adoração, admiração, louvor, ação de graças, amor, gozo e compaixão.
    2. Segundo ponto: Comunhão (Jesus em nosso coração).
      1. Convencer-nos da necessidade de praticar aquela virtude.
      2. Afetos de contrição pelo passado, de confusão pelo presente e de desejo para o futuro.
      3. Pedir a Deus essa virtude (participando assim das virtudes de Cristo) e por todas nossas necessidades e as da Igreja.
    3. Terceiro ponto: Cooperação (Jesus em nossa mãos).
      1. Formar um propósito particular, concreto, eficaz, humilde.
      2. Renovar o propósito de nosso exame particular.
  3. Conclusão
    1. Dar graças a Deus pelas luzes e benefícios recebidos na oração.
    2. Pedir-lhe perdão pelas faltas cometidas nela.
    3. Pedir-lhe que abençoe nossos propósitos e toda nossa vida.
    4. Formar um "ramalhete espiritual" para tê-lo presente durante todo o dia.
    5. Colocar tudo nas mãos de Maria: Sub Tuum Praesidium [Sob vossa proteção].

São João Batista de La Salle, que foi discípulo de Tronson, propõe a seus irmãos um método muito parecido ao de São Suplício. Insiste, ao preparar-se, na presença de Deus (nas criaturas, em nós, na Igreja); seguem três atos em torno de Cristo (fé, adoração e ação de graças), três em torno de si mesmo (confusão, contrição e aplicação do mistério) e três atos últimos (união com Cristo, petição e invocação dos santos).

Como se vê, as fórmulas são variadíssimas (prova de que nenhuma delas é essencial ou indispensável), embora todas venham a coincidir no fundo. Se trata de que a alma se ponha na presença de Deus, reconsidere sobre o que tem feito e o que deve fazer e se entregue a uma conversação afetiva com Deus na demanda de suas graças e bençãos, terminando com uma resolução enérgica, muito concreta e particularizada. Estas são as linhas gerais nas quais vem a coincidir todos esses métodos. Cada alma, repetimos, deve escolher aquele que melhor se adeque ao seu temperamento e psicologia, mas sem ater-se demasiado, nem muito menos deixar-se escravizar por ele. Deixe a seu espírito seguir com facilidade e sem esforço as distintas moções que lhe inspire em cada momento a ação santificadora do Espírito Santo.

Matérias que se devem meditar

Nisto, como em tudo, é necessário discrição e prudência. Nem todas as matérias convém a todos, nem sequer a uma mesma alma em situações distintas. Os insistirão, antes de tudo, nas matérias que possam inspirar-lhes horror ao pecado (novíssimos, necessidade de purificar-se, etc.); as almas adiantadas encontrarão pasto abundantíssimo na vida e paixão de Nosso Senhor; e as muito unidas a Deus, na realidade não necessitam de matéria; seguem em cada caso a moção do divino Espírito, que costuma levá-las à contemplação das maravilhas da vida íntima da Santíssima Trindade: "e por aqui não há caminho, pois para o justo não há lei", dizia admiravelmente São João da Cruz.

A princípio, todavia, convém escolher a matéria mais apta para o estado e situação da alma, sem prejuízo de deixar-se levar sem resistência do atrativo interior da graça quando impulsiona até outros horizontes:

"Deixe-a andar por estas moradas acima e abaixo e aos lados, pois Deus a deu tão grande dignidade; não se apegue em ficar muito tempo em uma única parte somente" (Santa Teresa, Primeiras Moradas, II, 8)

Não convém tampouco considerar demasiado a matéria. Eis aqui conselhos sensatos e muitos acertados de um célebre autor, que fazemos inteiramente nossos:

"A princípio, a matéria deve ser curta, simples e clara, sem complicações, refinamentos nem sutilezas. A oração não é um entretenimento de espíritos ligeiros, senão um humilde comparecer da alma diante de Deus. Inclusive quando a impotência ou a aridez obrigam a uma leitura meditada ou a uma lenta oração vocal na que se vai considerando sucessivamente cada palavra ou pensamento, é preciso não correr de uma a outra palavra, senão deter-se o meio tempo possível para exprimir e saborear o conteúdo de cada uma delas até que o coração se mova e se abrase. Nas condições ordinárias não convém propôr ao espírito mais do que um pequeno número de pensamentos. Quando se sabe orar, um, dois, três no máximo, bastam para alimentar a mais longa oração. Não se esqueça nunca: não se trata aqui de ver, senão de amar ou querer. A oração é, antes de tudo, um exercício do coração. Geralmente, os livros apresentam uma abundância tal, que transforma a meditação em leitura espiritual. Claro que não tem toda a culpa os livros; de uma mesa servida com demasiada abundância não se deve comer de tudo, senão tão somente segundo o gosto e apetite. São preferíveis, todavia, os livros que não indicam para cada dia mais que dois ou três pensamentos; estes são os melhores de seu gênero. Os que para uma só meditação condensam tratados inteiros sobre a matéria, acusam em seus autores uma noção muito defeituosa da oração; ao invés de simplificá-la e facilitá-la, a complicam e em parte a suprimem". (Ribet, A Ascética Cristã, c. 31, n. 3)

É certo, todavia, que muitas pessoas não conseguem meditar senão valendo-se de algum livro. A própria Santa Teresa diz de si mesmo que passou mais de catorze anos nesta forma:

"Eu estive mais de catorze anos de modo que nunca tinha meditação alguma, senão junto com a leitura. Haverá muitas pessoas assim, e outras que, embora seja com a leitura, não podem ter meditação, senão rezar vocalmente e aqui se detém mais" (Caminho 17, 31)

Nestes casos, a alma deve valer-se do livro, ou rezar vocalmente muito lentamente esforçar-se em fazer o que possa até que Deus disponha outra coisa. O que nunca deve ser feito é transformar a meditação em simples leitura espiritual. Seria preferível, antes disto, limitar-se a rezar vocalmente. A oração vocal é oração, mas não o é a simples leitura espiritual.

Quanto às matérias concretas que convém eleger, dissemos que são muito variadas segundo o estado e situação da alma. Eis aqui algumas indicações muito práticas do autor que acabamos de citar:

"As matérias ordinárias que são convenientes meditar são as que unem a alma a Deus, a mentém na fiel observância dos mandamentos e a ajudam a santificar sua vida. As obrigações de seu estado, os vícios e as virtudes, os novíssimos, Deus e suas perfeições, Jesus Cristo, seus mistérios, seus exemplos e palavras; a Bem-aventurada Virgem Maria e os santos, as solenidades e os aspectos diversos do cilo litúrgico; tais são as considerações mais próprias para excitar a devoção e alimentar a piedade. Porém, há para cada um pontos particulares sobre os quais convém insistir com frequência, tais como o defeito dominante, ao atrativo especial da graça, os deveres e perigos de sua condição e estado. Fora destes e neles mesmos, as circunstâncias, o movimento interior e os conselhos de um sábio diretor determinam o verdadeiro campo da meditação. Em todo caso, é sempre útil repetir, mesmo que sejam muitas vezes, as que mais nos tenham movido e impulsionado à oração… Porém, qualquer que seja a matéria particular que se medite, o objeto principal de nossas considerações e afetos deve ser sempre Nosso Senhor Jesus Cristo. Nossas orações, o mesmo que nossas obras, não são agradáveis a Deus senão na medida em que tenham sido feitas em união com o divino Mediador. Mas, nada assegura tanto esta comunhão como o manter-se durante a oração na presença e debaixo do olhar de Jesus Cristo e dirigir até Ele as considerações da mente e os afetos do coração." (Ribet, A Ascética Cristã, c. 31, n. 5-6)

Detalhes complementares

Se referem principalmente ao tempo, lugar, postura e duração da oração mental.

TEMPO. Duas coisas devem-se ter em conta: a necessidade de designar um tempo determinado do dia e a eleição do momento mais oportuno.

Quanto ao primeiro, é evidente a conveniência de designar um tempo determinado para dedicar à oração. Se se altera o horário ou se vai deixando para mais tarde, se corre o perigo de omití-la totalmente sob o menor pretexto. A eficácia santificadora da oração depende em grande parte da constância e regularidade em seu exercício.

"Porém, nem todos os tempos são igualmente favoráveis para o exercício da oração de que falamos. Os que se seguem a comida, ao recreio e ao tumulto das ocupações não são aptos para a concentração do espírito; o recolhimento e a liberdade de espírito são necessárias para a ascensão da alma até Deus. Segundo os mestres da vida espiritual, os momentos mais próprios são: de manhã cedo, de tarde antes da ceia e a meia noite. Se não se pode dedicar à oração mais do que uma única vez ao dia, é preferível de manhã. O Espírito, refrescado pelo repouso da noite, possui toda sua vivacidade; as distrações não lhe assaltaram ainda, e este primeiro movimento até Deus imprime na alma a direção que deve seguir durante o dia." (Ribet, A Ascética Cristã, c. 32, n. 3)

Os livros sagrados designam também a manhã e o silêncio da noite como as horas mais apropriadas para a oração: "De manhã, Senhor, te faço ouvir a minha voz; cedo me coloco diante de Ti, esperando-te" (Ps. 5, 4); "... e minhas orações vão a ti desde a manhã" (Ps. 87, 14); "Me levanto a meia noite para dar-te graças por teus justos juízos" (Ps. 118, 62); "... e passou a noite orando a Deus" (Lc. 6, 12).

LUGAR. Para alguns religiosos, seminaristas, etc., está determinado expressamente pelo costume da comunidade a oração que se faz em comum. Geralmente é na capela ou no coro. E mesmo privadamente convém fazê-la alí pela santidade e recolhimento do lugar e a presença augusta de Jesus Sacramentado. Porém, absolutamente se pode fazer em qualquer lugar que convém ao recolhimento e concentração do espírito. A solidão geralmente é a melhor companheira da oração bem feita. Jesus Cristo a aconselha expressamente no Evangelho; e é útil não somente para evitar a vaidade (Mt. 6, 6), senão também para assegurar sua intensidade e eficácia. Nela é onde Deus costuma falar ao coração:

"Seria bom fazer a oração diante dos espetáculos da natureza: sobre as montanhas, a costa do mar, na solidão dos campos? Deve-se responder que o que para alguns é conveniente, representa para outros um obstáculo. As disposições particulares e a experiência devem devem designar a regra de conduta". (Ribet, A Ascética Cristã, c. 32, n. 4)

POSTURA. A postura do corpo tem uma grande importância na oração. Sem dúvida é a alma quem ora, não o corpo; porém, dada suas íntimas relações, a atitude corporal repercurte na alma e estabelece uma espécie de harmonia e sincronização entre as duas.

Geralmente, convém uma postura humilde e respeitosa. O ideal é fazê-la de joelhos, mas esta regra não deve levar-se até a rigidez e o exagero. Na Sagrada Escritura há exemplos de oração em todas as posturas imagináveis: de pé (Jdi. 13, 6; Lc. 18, 13); sentado (2Sm. 7, 18); de joelhos (Lc. 22, 41; At 7,60); prostrado por terra (1Rs. 18, 42; Jdi. 9, 1; Mc. 14, 35), e até no leito (Ps. 6, 7).

Evite-se, qualquer que seja a postura adotada, dois inconvenientes contrários; a excessiva comodidade e a mortificação excessiva. A primeira, porque, como diz Santa Teresa, "conforto e oração não se compadecem" (Caminho 4,2); e a segunda, porque uma postura excessivamente penosa e incômoda poderia ser motivo de distração e afrouxamento no fervor, que é o principal da oração.

DURAÇÃO. A duração da oração mental não pode ser a mesma para todas as almas e gêneros de vida. O princípio geral é que deve estar em proporção com as forças, o atrativo e as ocupações de cada um. Colocado concretamente, Santo Afonso de Ligório diz que não se deve impôr aos principiantes mais de meia hora diária, e que se vá aumentando o tempo na medida que cresçam as forças da alma:

"Incipiat ergo confessarius introducere animam in orationem. Ab initio non plus quam mediae horae spatium assignet, quod deinde crescente spiritu, plus minusve augebit" (Praxis Confessariorum, c. 9, n. 123)

São Francisco de Sales, escrevendo especialmente para as pessoas do mundo e as de vida ativa, pede uma hora, e o mesmo Santo Inácio em seus exercícios (n. 13). Os que escrevem mais especialmente para os religiosos reclamam de uma hora e meia a duas horas.

Se compreende que, se o tempo é demasiado curto, não se fará nada além de despojar a imaginação e preparar o coração; e quando se está já preparado e deveria começar o exercício, se deixa. Por isto com razão se aconselha que se tome, para fazer oração, o maior tempo possível; e melhor é dar-lhe uma só vez um longo tempo, do que em duas vezes pouco tempo a cada uma.

Todavia, os antigos monges costumavam fazer breves mas frequentes e intensas orações, que encaixavam muito bem com o habitual recolhimento da vida monástica.

O Doutor Angélico afirma, como vimos, que a oração deve durar todo o tempo que a alma mantenha o fervor e devoção, devendo cessar quando não possa continuar sem tédio e contínuas distrações. Porém, tenha-se cuidado em não dar ouvido à tibieza e negligência, que encontrariam fácil pretexto nesta norma para sacudir o penoso esforço que requer quase sempre a oração. Deve-se, finalmente, advertir que a oração, qualquer que seja sua duração, não pode considerar-se como um exercício isolado e desconectado do resto da vida. Sua influência deve ser sentida ao longo de todo o dia embalsamando todas as horas e ocupações, que ficarão impregnadas do espírito de oração. Neste sentido, adverte o Angélico no mesmo lugar, a oração deve ser contínua e ininterrupta. Muito ajudará isto a conseguir a prática assídua e fervorosa das orações jaculatórias, que manterão ao longo do dia o fogo do coração. Porém, seja como for, deve conseguí-lo a todo custo se queremos levar uma vida de oração que nos conduza gradualmente até o cume da perfeição cristã. Sem vida de oração seria escassíssimo o fruto que retiraríamos de meia hora diária de meditação isolada.

"Triste enfermidade, lamenta Tissot, essa do isolamento!... Esta regulamentação mecânica, perversão materialista da regularidade, faz da vida como um tipo de armário cheio de gavetas. A tal hora abro esta, a da meditação; lhe dedico meia hora, e a fecho, e por hoje basta. Logo abro outra, a da oração; por três quartos de hora, e volto a fechá-la. E assim com os demais exercícios e ocupações; cada um deles tem sua gaveta. Os exercícios de piedade vem a ficar deste modo isolados naquela parte do dia a eles dedicada e separados do decurso da vida; e somente exercem na alma essas influencias momentâneas, se é que exercem alguma… O conjunto da minha vida fica desconhecido e sem unidade."

E adiante acrescenta:

"A invasão do formulismo isolador em nenhuma parte é tão funesto quanto na meditação… Confiando-a a uma meia hora, se fará este exercício para ter a satisfação de tê-lo feito; e guardando melhor ou pior o tempo estabelecido, crerá alguém tê-lo cumprido, e se dará por terminada a oração, sem que esta tenha eco no restante do dia e sem quase saber o que é a vida de oração. Encerrando e isolando desta maneira a meditação, se chega a matar a contemplação… Em outro tempo, demonstram as regra das ordens antigas, os fiéis eram menos exclusivistas e menos formulistas; cuidavam mais da unidade dos exercícios e da circulação da vida em todos os atos de piedade… Como a alma cristã vivia da liturgia, a vida ia progressivamente transformando-se em um estado de meditação contínua, que por fim chegava à contemplação. Se a meia hora de oração que hoje costumam ter as almas desejosas de santificar-se estivesse menos isolada; se em vez de uma peça solta, como outra qualquer e justaposta à ela, tenderia a ser como um resumo, a alma e o coração de todo dia; se o caráter dos outros exercícios e atos diários viessem vivificar aqui; se em vez de fazê-la sair tão exclusivamente de um método, as vezes muito convencional, e de livros superficiais procurássemos fazê-la brotar das entranhas da alma e da vida ordinária; se ela fosse a que colocasse em ação o ofício, a missa, as orações, os incidentes e todas as ocupações do dia e da vida, levando e dirigindo tudo isto a Deus; se por ela aprendêssemos a ler em nossa vida a ação de Deus sobre nós, a ver-lhe em suas relações vivas com nossa alma… ao invés de confinar-se em sua meia hora tenderia a invadir todos os momentos do dia, criando no coração como que uma necessidade de voltar a submergir-se, de vez em quando, alguns instantes numa conversa fervorosa com Deus, então seria mais eficaz e mais fácil; nos custaria muito menos e nos aproveitaria muito mais. O isolamento mata tudo, mas em nada prejudica tanto como na oração". (Tissot, A Vida Interior Simplificada, P. 3, L. 2, c. 3-4)

Leia a primeira parte aqui: A definição da meditação católica segundo o padre Royo Marín